sábado, 31 de dezembro de 2011

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NÃO AO MEDO E À RESIGNAÇÃO

 

CARVALHO DA SILVA, QUER SE CONCORDE OU NÃO COM AS SUAS POSIÇÕES SINDICAIS, REPRESENTA OS TRABALHADORES.

DELES RECEBE ESSA LEGITIMIDADE, PONTO FINAL.

OUTROS, QUE DELE NÃO GOSTAM E MUITO MENOS GOSTAM DE SINDICATOS, REPRESENTAM NECESSARIAMENTE COISA DIFERENTE.

O QUE ESTES DIZEM PODE VALER PARA TUDO ... MENOS PARA DEFENDER OS TRABALHADORES E O TRABALHO.

ESTOU ENFASTIADO COM OS "MELGAS" SUPOSTAMENTE INTELIGENTES!

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

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A TECNOCRACIA ESTÁ NO PODER MAS ESQUECEU-SE DE IR A VOTOS

 

Albert Speer, um ministro do Armamento e Munições de feição tecnocrata do Terceiro Reich, sem papas na língua, terá confessado que a ditadura de Hitler foi a primeira que soube utilizar, para dominar o seu próprio povo, todos os meios técnicos ao seu dispor. Acrescentou que esses meios tornaram possível submeter os cidadãos a uma vigilância muito ramificada e, ao mesmo tempo, manter em segredo os procedimentos criminosos.

Reconhecer a importância da informação parece-me óbvia. Identificar o alcance e as consequências do seu controlo já se me afigura menos claro e ainda mais inevidente quanto maior se torna a complexidade dos diversos aparelhos técnicos ao dispor dos múltiplos poderes que nos enclausuram.

O problema torna-se sério, ou mesmo dramático politicamente, quando os gestores, associados aos poderes que escapam ao controlo dos cidadãos, se instituem em polos difusos de decisão a quem não se pode pedir responsabilidades dada a sua natureza anónima. Os interesses particulares poderosos tomam assim de assalto a tecnologia, como dimensão estratégica, de modo a assegurar as condições de exercício pleno do sistema económico e político.

A democracia virou hoje totalitarismo, como podemos confirmar pelas razões justificativas das medidas sociais, políticas e económicas tomadas pela nossa governação. O problema, para mim, não está propriamente em pagar o que se deve. Está claramente nas condições colocadas para que o empréstimo seja concedido. E é nestas condições impostas que o totalitarismo capitalista e financeiro se afirma e com ele a supremacia evidente, embora anónima, dos gestores.

A classe dominante, neste contexto obscurecido, vai vivendo sem sobressaltos e dormindo serena e descansadamente. Até quando, pergunto eu. Se os pobres alcançarem (ou alcançassem) a consciência que pouco ou nada têm a perder, o sono dos abutres dobrava, num ápice, em pesadelo. Então aí, os desfavorecidos poderiam, efetivamente, sonhar com uma existência, sobretudo, digna. A utopia, como referência, ilumina a razão e a força do inconformismo.

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

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OS NÚMEROS NÃO ALTERAM AS REALIDADES; ESTES, FALSIFICAM-NAS

 

O Governo oculta a pouca-vergonha do seu “rigor” com os favores intencionais ou desinformados da comunicação social. Duas perguntas se impõem. Como desfigura o Governo o rendimento familiar por pessoa de modo a exclui-los dos apoios sociais e, com essa ágil saloiice, que tanto persuade os formadores de opinião, poupar 200 milhões de euros? Como trabalhou o Governo, habilidosamente, o seu conceito de “rigor”? Muito simplesmente não procurando alterar as realidades sociais e económicas mas falsificando, através de uma nova mas “inconfessável” relação dividendo-divisor, a mesmidade. Imagine que o Paulo e a Beatriz têm dois filhos menores; o João e a Ana. Como se fazia antes do Governo aplicar o seu aplaudido “rigor”? Para obter o rendimento familiar dividia-se, ao tempo, por 4 (Paulo, Beatriz, João e Ana) para obter um rendimento “per capita”, valor este que resolvia o direito ou não da família a apoios sociais. O que fez este Governo? Passou a família do valor 4 para um outro bem menor, ou seja, 2,7 porque o Paulo ou a Beatriz (um deles) passa a valer apenas 0,7 e os filhos João e Ana somente a 0,5 cada. Ou seja, o truque é reduzir o agregado a 2,7 (1+0,7+0,5+0,5) em vez de o considerar 4 (1+1+1+1). Conclusão; dividir 1200€ por 4 dá 300€, dividir por 2,7 dá 445€. Assim sendo, o limiar da pobreza pode-se manter mas os pobres, em tempo de crise, facilmente passam, com esta finória aritmética, a remediados. Genial…

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sábado, 26 de novembro de 2011

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A FALSA ÉTICA DA SOLIDARIEDADE

 

TraicaoNa revista “VISÃO” desta semana (24 de novembro), José Gil escreve um artigo de opinião intitulado “A solidariedade”, desenvolvendo o tema atravessando três aspetos que delimitam, na perspetiva apresentada, o acolhimento que autor aplica, nestas circunstâncias, à análise da referida problemática.

Num primeiro momento, começa por discorrer como a coesão social se instaurou como o “substrato mais primitivo da própria humanidade do homem”, retrocedendo às sociedades exóticas e arcaicas enquanto “ realidade(s) que compreende(m) unidades em que o indivíduo se funde num grupo mais vasto … que determina(m) o … lugar (do indivíduo) e o seu sentimento vital de pertença a um conjunto que define a sua identidade”.

Deste tempo histórico salta para “o advento da propriedade privada, da definição jurídico-filosófica do cidadão isolado nas teorias do contrato social e do Estado”, chamando a atenção para a longa história do “individualismo” que, nos tempos de hoje, “permite que nas grandes cidades se morra solitariamente num apartamento sem que durante meses ou anos alguém dê por isso”.

De seguida, aproxima-se dos tempos difíceis que vivemos, das crises – nossa e não só – e das inúmeras iniciativas que múltiplas entidades adotam no sentido de ajudar os mais carenciados, entre elas algumas empresas e bancos. Resguarda a relevância destes gestos de atenção ao outro, no plano da sanidade social, lembrando que a solidariedade não pode, no entanto, significar “caridade humilhante ou afirmação de uma qualquer supremacia social”.

É neste contexto que José Gil sublinha que um número significativo dessas atividades de assistência “se exercem sob uma falsa ética de solidariedade (que) escondem negócios inconfessáveis …”, chamando a atenção para a “… boa consciência (assim supostamente) adquirida a baixo preço, álibis de uma ´economia social` que, afinal, não transforma minimamente a economia real geradora das desigualdades que a primeira procura reduzir”.

Por fim, questiona a solidariedade económica e social hoje desenvolvida por toda a Europa, afirmando que ela “só se legitima se se desviar da tendência hegemónica do capitalismo global, considerando o outro não como alguém diminuído mas como alguém com o pleno direito de acesso a todos os direitos, inclusive ao direito de ser ajudado”. Por mim, acrescento a importância de apensar à denúncia a coerência da ação que ela espicaça. Em nome de uma humanidade necessária mas hoje arrogantemente atraiçoada.

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A MALQUERENÇA REPULSIVA MAS RECONFORTANTE DO ÚTERO FAMILIAR

 

Rejeita-se o mundo tal como existe mas é através dele que afirmamos a nossa particular singularidade. Nele se enraízam as nossas revoltas e as nossas fúrias. É tudo quanto basta. Mais, seria exigir atos de coragem que desafiariam desconsolos maiores do que aqueles que vivenciamos supostamente entristecidos. Os valores que afirmamos alicerçam o protesto mas apresentam-se com uma vontade decidida em nada mudar, pese embora o sentido enunciado do futuro que inventamos e, sobretudo, exibimos desejar. Justifica-se assim, com acerbo, o protesto mas desajeitadamente se disfarça a nossa cobardice jesuíta de não sermos o que realmente somos e, acima de tudo, o que silenciosa e avidamente invejamos mas não temos a firmeza de carácter de deixar, sequer, transparecer.

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A revolta é a nossa sobrevivência; a sobrevivência dos fracos e dos fingidos. Tudo se faz, nada fazendo, mantendo intactas as razões e a legitimidade dos protestos. Mudar é que não. A revolta precisa de uma ordem que justifique as indisciplinas que a alimentam mas fundamentalmente não faça desaparecer a razão de ser e de permanecer das insubordinações social e culturalmente acatáveis. Sobre nós contamos grandes histórias, evadimo-nos em encenações romanescas entusiasmantes mas descuidamos de medir os desfasamentos dessas narrativas com a vida vivida e, sobretudo, sentidamente experienciada. Esconde-se a identidade biográfica sob o tapete da narrativa fantasiosa que se serve da mentira traiçoeira para ganhar credibilidade e transparência. O estabelecido é uma espécie de útero familiar do qual nos queremos libertar mas que o conforto doentio da cómoda vinculação nos traz uma irresponsabilidade pessoal e histórica que o futuro não deixará de lavrar em inscrições facilmente imagináveis …

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domingo, 10 de julho de 2011

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CONTRA O ANALFABETISMO POLÍTICO

 

Alfabetizar não constitui um fim em si mesmo. Preparar o cidadão para o desempenho das suas responsabilidades sociais, cívicas e económicas deve manter-se como princípio da sua missão essencial e originária. Contrariar o empreendimento ideológico da alfabetização política dominante (automática, obediente e acrítica) representa um dever de cidadania e não, de todo, um abuso de semântica.

Um contributo 

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sábado, 9 de julho de 2011

MÚSICA PARA TOLOS

 

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Uma semana sem televisão, rádio e jornais consentiu-me livrar de retóricas atreitas a enjoos e regurgitadas por aquela intrusiva gentalha liberalona e aproada que, na sua soberba certa, não poupa os tunantes - que nada ou pouco têm – dos seus gastos nímios e ociosos e, por isso, particularmente responsáveis pelos desmandos desta pobre tribo lusitana, à qual a troika generosa e pacientemente concede o socorro inadiável.

Cheguei e mal liguei a TV, o pasmo aconteceu. Os elogios peganhentos às notações de abril/maio, por um qualquer milagre insondável, tinham virado levantamentos insultantes aos deuses que neste mês de julho, pelos vistos, avistaram os pecados obstinados e estorvadores de sempre, os de hoje tal como os do meses passados. A punição deve, em vista disso, ser severa; o coração do sistema não pode deixar de bater ao seu desejável ritmo e, por que não, por si apetecível. Por isso …

Mas, para sossego de muitos, nem tudo é arritmia. Afinal, os panegíricos de ontem deram votos a 5 de junho e as sedições de hoje, que tanto encolerizam tal gentalha, provam neste mês de julho e nestas circunstâncias de surpresa dolorosa, a inocência dos recentes ganhadores na inevitabilidade das medidas tomadas e, sobretudo, a tomar no futuro … com a suposta alegação da crueldade imposta pelas obscuras notações do presente.

A culpa precisa, neste enredo de engodos, de se serpentear e ziguezaguear para que os infames continuem a chupar o sangue “tóxico” das suas vítimas estonteadas por tamanha luminosidade e transparência éticas. Bem-hajas, coração tão magnânimo …

Uma argumentação que vem mesmo a propósito; OUÇA

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

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“POLITIQUÊS” EM DISCURSO DIRECTO

 

ALGUÉM CONSEGUE PERCEBER O QUE ESTÁ ESCRITO NO PROGRAMA DE GOVERNO E QUE EM BAIXO SE TRANSCREVE ? (pág. 119)

A ACRATO

“Apostar fortemente no ensino técnico e na formação profissional

- No ensino secundário, a grande aposta deve  incidir num sistema de formação dual que articule a formação teórica das escolas profissionais com a formação prática nas empresas;
- As empresas devem ser incentivadas a apoiar os perfis profissionais, devendo  também ser chamadas a ajudar a execução da formação prática, assim facilitando  a transição para o mercado de trabalho;
- O financiamento desta rede pode ser partilhado entre o Estado e as empresas.”

ACEITO EXPLICAÇÕES

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quarta-feira, 29 de junho de 2011

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A IDEOLOGIA DA NÃO-IDEOLOGIA

 

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A agenda dos nossos problemas oscila de forma descomedida de acordo com circunstâncias e interesses onde a intransparência constitui o entretenimento mais irritante para o cidadão comum. A exasperação agudiza-se quando esses problemas são apresentados com uma frequência inusitada encapotados por discursórios pragmáticos ou técnicos indecifráveis, por vezes acompanhados por obscuras retóricas políticas mas raramente são, o que não deixa de ser estranho, mostrados como obrigatoriamente doutrinários. A desordem anuncia-se nesta lógica obtusa, como convém, concordante com as variações que as ditas circunstâncias avisadamente aconselham a quem bem nos governa e pretende prolongar tal governança. Em certos momentos vocifera-se sublinhando a triste desordem política, noutras ocasiões brada-se denunciando o desarranjo financeiro mas, amiudadamente, faz-se emergir a indignação pelas desventuras económicas e descarrega-se a bílis à aversão brava e ingénita pelas “balbúrdias” sociais.

Neste tempo político actual, confesse-se que ainda bem curto, a mudança de caras na governança tem disso sido, pelo burlesco, paradigmático. A quietação envolvente que uma comunicação social neutra, amansada e optimista procura transmitir é, em si, um pretenso mas esclarecedor sinal de embaraços já galgados que o cidadão comum, estúpido, não sente nem pressente. O País sossegou, vejam só, por que o arrogante e convencido Sócrates foi de abalada para Paris prometendo, nos tempos próximos, regular o seu silêncio ocultando-se nas brenhas da filosofia. A economia, num átimo, recuperou ânimo e, com este ganho destapou perspectivas críveis que, com a ajuda esperançada dos e nos sindicatos, promete fazer da acalmia social uma certeza necessária já felizmente próxima.

Como se pode depreender, por exclusão de partes, o essencial da crise está, como coisa sobrante, na relação milagrosa dos dinheiros com a engenharia achada dos seus créditos, expressa na prestante ajuda solidária e competente da troika e com a anuência inequívoca de cerca de 47% do eleitorado português. Doravante, neste caridoso quadro, resta-nos metamorfosear os protestos sociais, dos mais vivos aos vulgarmente acanhados, em merecidas propostas de louvores ao Coelho, ao Barroso e, com mérito acrescido, à Merkel e ao simpático Sarkozy, não esquecendo o Paulinho democrata e, pelos vistos, cristão que não é exactamente, faça-se justiça, o Paulinho inveteratus beijador das feirantes.

E tudo isto, porquê? Porque os pobres são difíceis de contentar, os malandros calaceiros não têm emenda e os trabalhadores espreguiçam-se em demasia nos estofos da desqualificação e da incompetência, sugando o tesouro público para o qual apenas contribuem com a toxicidade e irresponsabilidade dos seus desvarios. Por isso, o coração do sistema não se pode entregar à esfera promíscua da produção onde aqueles vegetam mas, ao contrário, confiá-lo ao sentido ético e competente dos financiadores, garantes idóneos e incontornáveis de um ambiente económico socialmente promissor e saudável. Os madoffes são fantasias, as actividades criminosas dos offshores invenções e as dívidas de risco e especulativas na busca de dinheiro que não custa a fazer ou as engendradas pelas múltiplas donas brancas são meras induções sórdidas de gente ociosa que nada mais faz do que atrapalhar quem dá o corpinho pelo bem comum. Abaixo as ideologias. Viva a NÃO-IDEOLOGIA …

Imagem retirada do Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

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Educação e Formação de Adultos pouco escolarizados e a Iniciativa Novas Oportunidades

 

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À minha amiga Dina Bernardo

Estabelecer uma relação entre a Educação e Formação de Adultos (EFA) e a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) é trazer para um debate exigente e espinhoso, sobretudo pela sua natureza ideológica e axiológica, a importância da capacidade individual e colectiva das aprendizagens, designadamente dos adultos menos escolarizados, tendo bem presente os atrasos estruturais nos planos da educação e da formação que se verificam na sociedade portuguesa, com as consequências sociais, culturais e económicas que se conhecem. Não sendo possível nesta breve reflexão inscrever tal aprofundamento, passo a expressar apenas algumas notas que considero relevantes na relação em análise.

 

Em primeiro lugar, importa referir os números expressivos de adesão aos processos de Reconhecimento e Validação de Competências (RVCC) e às novas ofertas de EFA que, pela sua ordem de grandeza, merecem um exame exigente e desapaixonado. Inevitavelmente estamos em presença de impactos, ganhos e perdas nas esferas do individual, do social e do económico que interessa avaliar e elencar. Neste panorama impressivo, será naturalmente pertinente questionar se a EFA é hoje já um sistema ou, ainda e tão-só, um conjunto generalizado e diversificado de práticas mais ou menos localizadas?

Uma ilação, no entanto, é-me permitida pelo contacto intensamente vivido com os adultos que têm respondido positivamente à INO; o Estado é visto por estes com simpatia e a ocorrência desta subjectivação, designadamente junto de uma população menos escolarizada, não é algo que se possa depreciar política e socialmente enquanto condição valiosa em termos da evolução próxima da educação e da formação dos adultos.

Valendo as percepções o que valem, neste contexto disputado de subjectividades e de racionalidades, designadamente no âmbito do RVCC, interessa apurar se estamos em presença de um mecanismo que reproduz e revalida desigualdades ou, pelo contrário, promove mudanças de natureza social intencionalmente comprometidas com processos mais amplos e desejáveis de democratização. A EFA constitui, como se sabe, um campo de múltiplas dimensões (do cultural ao económico, passando pelo educativo e que nestas não se esgotam) que interagem entre si de uma forma nem sempre harmoniosa e congruente, fazendo com que o critério decisivo não possa deixar de ser colocado na emancipação (pessoal e social) dos cidadãos, designadamente dos que não foram favorecidos pelas suas circunstâncias sociais e históricas.

É neste quadro, onde as políticas se constituem, que importa perceber a escala que se pretende dar à EFA e como esta acolherá (ou não) todo um património cultural e educativo de experiências significativas anteriores e das filosofias que lhes estiveram (e estão) subjacentes. As questões de proximidade, de emancipação pessoal e colectiva e de natureza e amplitude das mudanças não podem deixar de constituir referências fundamentais na valorização sistémica deste domínio socioeducativo enquanto modalidade institucional que se deseja com a mesma dignidade das restantes. Estas são algumas das questões que podem e devem orientar o debate que urge continuar, incentivar e aprofundar no domínio da EFA.

Uma outra face da temática relativa à EFA, que importa igualmente problematizar, tem a ver com o processo RVCC na sua relação com as aprendizagens no quadro mais amplo da Educação e Formação ao Longo da Vida. Nesta perspectiva, desde já, impõe-se uma nota inicial; o RVCC não pode ou deve ser considerado um simples ponto de chegada. O RVCC tem de ser promovido e, como tal, instituído seguramente como um ponto de partida ou de passagem para um processo educacional mais amplo e permanente capaz de (trans)formar as pessoas e as suas condições de existência. Neste contexto, torna-se, deste modo, desejável trabalhar e valorizar o processo RVCC optimizando a sua função formativa, nele inscrita, de um eficiente balanço realizado de saberes e de competências, tendo em vista o desenvolvimento viável e futuro de projectos pessoais e colectivos.

Acrescente-se à nota anterior, uma outra consideração sobre as evidências requeridas ao longo do processo de reconhecimento e validação e a natureza (colectiva ou individual) da sua focagem. A diferença na tomada de foco pode favorecer (ou não) o debate de problemas comuns e apadrinhar (ou não) abordagens partilhadas de possibilidades de acção. O terreno e a natureza das evidências orientarão (ou não) novas formas de perceber e perspectivar o meio e o mundo e, como tal, modos de acção distintos de operar sobre eles, reclamando naturalmente saberes e competências diferentes para responder a necessidades, também elas, logicamente diversas.

Por último, o factor tempo. Este constitui-se num elemento decisivo porque dele depende a qualidade de realização de um trabalho metodológico, formativo e organizativo capaz, tendo em conta, com rigor e realismo, as dificuldades de natureza educativa e cultural inerente a percursos escolares reduzidos da grande maioria dos adultos. A ocorrência e o desenvolvimento de autonomias de modo a alterar as relações, por vezes fundas, de desigualdades no plano dos múltiplos recursos associados à capacidade de aprender permanentemente, não podem continuar a ser pensadas como eternas inevitabilidades. Assim sendo, uma das questões pertinentes que se coloca é esta; será possível aos Centros de Novas Oportunidades, nas condições actuais e no âmbito global da INO, trabalhar os referenciais de competências-chave neste sentido crítico e transformador das pessoas e dos seus contextos de existência?

Imagem retirada DAQUI

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domingo, 19 de junho de 2011

A BONDADE DE UM TROPO ÚTIL

 

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O exibicionismo tem muitas variantes mas apenas a de natureza sexual é vista como patológica e, como tal, considerada uma perversão. O critério essencial consiste, sabe-se, na imposição de exibição ao outro que não o aceita ou, ainda, a um qualquer outro que não se encontre reconhecidamente capacitado para esse acareamento.

Não será tempo de alargar o conceito a outras manifestações humanas, designadamente de carácter político e ideológico com o propósito de tornar este mundo bem mais saudável?

Imagem colhida AQUI

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

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A ESTÚPIDA ARROGÂNCIA DA CHANTAGEM MORALISTA DEMOCRÁTICO-LIBERAL

 

Blogue

Ao desfolhar o “Le Monde Diplomatique” (edição portuguesa – Junho 2011) pude ler, logo na 1ª página, num artigo de Serge Halimi intitulado “Argumentos Loucos”, o seguinte parágrafo que, convosco, partilho.

NOTA - A imagem que acompanha este post foi desviada do blogue CONVICTOS OU ALIENADOS

Quando a justiça nova-iorquina recusou dar um tratamento de favor ao director geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), acusado de violação num hotel de luxo de Manhattan, um comentador que alinha pelo diapasão da casta dirigente francesa, política e mediática, ficou chocado com a “violência de uma justiça igualitária” … Acrescentou o seguinte, quase mecanicamente: “A única coisa de que se tem a certeza é que os sentimentos anti-elite alimentados por este escândalo vão aumentar as possibilidades da Frente Nacional de Marine Le Pen nas próximas eleições”.

O meu comentário está feito; expressei-o no título do post

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segunda-feira, 13 de junho de 2011

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DO EU SOLITÁRIO AO NÓS SOLIDÁRIO

 

Frei Fernando

Acabo de ouvir uma estimulante entrevista de FREI FERNANDO VENTURA na SIC NOTÍCIAS, com o jornalista MÁRIO CRESPO. Diria que aprovo, no essencial, o que o Fransciscano da Ordem dos Capuchinhos exprimiu, embora como ateu prescinda, e aguardo que dessa desobrigação ninguém me leve a mal, as suas referências a Deus e à Fé.

As suas palavras foram por mim tomadas na sua dimensão filosófica, ética e, sobretudo, política no seu apelo à coragem de experimentar práticas de solidariedade (e de liberdade) face ao OUTRO no sentido de consertar a ESPERANÇA destruída pela decepção, desfeita pela ruína da credulidade e arrasada pelo depauperamento da ideia entusiasmante de progresso.

Regenerar esse histórico laço prometedor entre os defensores do progresso e da justiça social a favor do OUTRO e da SOLIDARIEDADE que a inscreve constitui, hoje mais do que nunca, uma urgência que não pode esperar. O FUTURO, pese embora a desconfiança instalada, não pode vacilar entre a esperança frouxa e o desespero que suspende a ação. A confiança impõe-se porque, só ela, pode animar a vontade de mudar e de (trans)formar.

 VER E OUVIR a entrevista; vale apena …

A designação do post é o título do seu último livro.

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OS PRINCÍPIOS CONTRAFEITOS DE UM BEM COMUM TRAÍDO

 

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Riccardo Petrella, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, num pequeno livro que tem mais de uma década, “O Bem Comum – Elogio da Solidariedade”, refere que a solidariedade deixou de inspirar os princípios fundadores e as normas de funcionamento das sociedades ditas desenvolvidas. Quais são, então, os princípios que o cientista político e social explicita como contrafeitos? Três, no essencial:

1º PRINCÍPIO - Nada tem “valor” se não houver contrapartida, ou seja, tenha valor económico. Assim, só possui valor de utilização os bens e os serviços comercializáveis concordantes com os interesses da economia capitalista de mercado. Eis a bandeira através da qual se procura fundamentar e sustentar os postulados exaltados da liberalização, da desregulação e da privatização, em desfavor da “necessária” extinção dos bens e dos serviços públicos.

2º PRINCÍPIO - A empresa privada é melhor que a empresa pública porque é uma organização estável para conseguir organizar as relações “comerciáveis” entre os membros de uma comunidade humana e entre os países. Nesta perspectiva, logicamente se convoca a tese segunda a qual o investimento privado é o motor do desenvolvimento de qualquer país e, consequentemente do seu desenvolvimento social, desde que não se inclua aqui o que não rende; os militares e as polícias, por exemplo, têm por função, neste quadro, isso sim, contribuir para a competitividade das empresas. Tudo o resto, é injustificável na linha de que o investimento público cria mais prejuízos do que proveitos. Reduza-se, com o tal apelo ao sentido de responsabilidade, as despesas públicas “não comercializáveis” e, em concordância, os impostos sobre o grande capital, as grandes fortunas e os grandes lucros.

3º PRINCÍPIO - Como corolário natural, a ideia de que o capital financeiro seria a principal fonte de criação de riqueza, insinuando a permuta desta do trabalho humano para o capital financeiro privado e, assim, inspirando a revogação de um sistema de valores desenvolvido e que, historicamente, ocorreu no último século.

 

Desta viciação de princípios, Riccardo Petrella diz resultarem duas consequências políticas e socioeconómicas que explicam, a inevitável necessidade do desmantelamento do Estado do “Welfare” por parte das classes dirigentes:

- O trabalho foi reduzido à categoria de custo para o capital, com a consequente e natural redução do seu custo através do abaixamento real dos salários ou da substituição do trabalho pelas novas tecnologias ou, ainda, pela deslocação das empresas para países de baixos salários e de fraca protecção social;

- O Estado ao tributar impostos com finalidades redistributivas passou a ser visto como prejudicial e, deste modo, naturalmente acusado de ser penalizante para a liberdade e a acção do capital. Ao colocarem-se, assim, os Estados em concorrência fiscal entre eles, através da contracção fiscal, favoreceu-se (e favorece-se) o propósito fulcral de destruição do Estado do “Welfare” como convém ao capital.

É nesta ordem de ideias, e noutras igualmente equivalentes, que o pensamento ético confronta a política, a economia e, até, a própria ciência contemporânea, de mau grado para muitos comentadores que hoje se passeiam, sem castigo, pelas nossas televisões ou escrevinham nos nossos jornais, sem que se interroguem se pode haver uma política legítima ou uma economia solidária que não se paute por uma normatividade tendente à realização da Ideia de Dignidade – meta incontornável de uma Ética Solidária para o nosso tempo.

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

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NÃO SOU EU QUE O DIGO

 

Economia Moral Política

Comprei na semana passada, um pequeno livro dos ENSAIOS DA FUNDAÇÃO (Fundação Francisco Manuel dos Santos), intitulado “Economia, Moral e Política”, escrito por Vitor Bento, homem licenciado em Economia e mestrado em Filosofia que ocupou, ao longo de uma intensa carreira profissional de 38 anos, diversos cargos de reconhecida responsabilidade pública e empresarial, tendo sido nomeado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, membro do Conselho de Estado, em substituição de Dias Loureiro. Tratando-se de alguém que se situa num espaço político e ideológico diferente do meu, mais estimulou o meu interesse pela sua leitura.

Confesso que li a introdução e, de imediato, passei ao último capítulo que, de forma simples mas clara, tematiza A recente Crise Financeira Internacional. Pretendo neste breve texto dar conta dos factores por ele referidos como sendo as causas mais relevantes desta crise que começando por emergir no sector financeiro, não é possível, ainda hoje, conhecer em toda a sua extensão. Refere o autor que embora os factores financeiros apareçam como as causas mais comummente apontadas para a origem da crise, várias outras, económicas e sociais, concorrem para o desenlace.

 

Neste enunciar de factores causais da crise, dois deles chamaram a minha atenção. Começo por referir a bolha especulativa que, Vitor Bento, caracteriza como um processo típico de “loucura colectiva, desencadeado quando um período de prosperidade funda comportamentos baseados em expectativas adaptativas de falsa valorização de activos que vai gerando uma incomensurável riqueza artificial até ao pânico que origina o crash final. De quem é a culpa? De modo sucinto, ele responde:

§ Dos reguladores, que não viram a tempo, e por isso não preveniram, as condições que alimentaram a insustentável inflação dos activos;

§ Dos bancos centrais, que mantiveram taxas de juro excessivamente baixas por demasiado tempo, favorecendo o enchimento da bolha;

§ De gestores e profissionais pouco escrupulosos, que criaram e venderam gato por lebre, acreditando, ou fazendo acreditar, numa nova alquimia;

§ De teóricos que acreditaram e levaram outros a acreditar na infinita capacidade auto-reguladora dos mercados;

§ Dos que descuraram a Macroeconomia e a gestão macroeconómica

§ Dos especuladores, não só os ricos e gananciosos mas também das suas próprias vítimas que puseram de lado a prudência e assumiram riscos excessivos, apostando a segurança do futuro no conforto do presente.

O outro dos factores que pretendo mencionar e também citado, como é óbvio, por Vitor Bento, remete-nos para o Funcionamento do Sector Financeiro e para as três causas a ele directamente associado.

§ 1ª causa – O crescente distanciamento da realidade tangível em que assentou o explosivo crescimento financeiro, sabendo que o papel económico fundamental deste sistema é intermediar, entre aforradores e investidores, a utilização da poupança e distribuir riscos. Dois aspectos são, assim, sublinhados como condições para o êxito desta intermediação; é necessário, por um lado, que os utilizadores de fundos lhes assegurem uma aplicação suficientemente reprodutiva, aumentando o potencial de produção futura e, com ele, a capacidade de conversão dos direitos de saque sobre ela existentes. Por outro, que a criação de activos financeiros se vá aumentando em linha com o crescimento do potencial de produção. E o que aconteceu, então? Vitor Bento responde: por um lado, um crescente desvio, para fins não produtivos, dos fundos disponibilizados pelo sector; e por outro, um desmesurado crescimento do stock dos activos financeiros, através de um processo de multiplicação de direitos de saque sem qualquer sustentação na realidade sobre a qual são sacáveis. Assim surgiram os conhecidos “derivados financeiros”, a inflação da percepção da riqueza e a desproporção que os esquemas regulatórios deixaram inchar até à sua implosão estrondosa.

§ 2ª causaA arrogância epistemológica proveniente do quadrante ideológico liberal que, reproduzindo a arrogância dos economistas socialistas … tentaram demonstrar, através de um conjunto mais ou menos numeroso de equações matemáticas, que seria possível conseguir uma afectação dos recursos mais eficiente do que o mercado.

§ 3º causa – Vitor Bento defende o princípio de que a eficácia do mercado enquanto regulador económico pressupõe, além do comportamento racional dos seus agentes, a sua atomicidade. Esta assegura a existência de uma diversidade de interesses, objectivos, visões e expectativas, em confronto permanente, para que se produzam equilíbrios razoáveis e não enviesados. Neste campo, o que aconteceu foi que, ao longo das últimas décadas, o modelo de funcionamento económico, e sobretudo no sector financeiro, foi construído assente em práticas inconsistentes com aquele princípio económico, com consequências tanto mais gravosas quanto mais globalizado o modelo se tornou. Deste modo, permitiu-se ou fomentou-se uma excessiva concentração das instituições financeiras e, por outro lado, promoveu-se uma padronização comportamental dos decisores, que, em geral, estudaram nas mesmas escolas, aprenderam a mesma doutrina, utilizam os mesmos modelos de análise e decisão, pensam da mesma maneira, reagem aos mesmos sinais, fazem as mesmas previsões e competem com os mesmos “benchmarks”.

ESCLARECEDOR !

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quarta-feira, 8 de junho de 2011

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DESCULPEM LÁ, A CATURRICE SADIA DE SER ESQUERDA

 

Esboco

NOTA: Texto que dedico aos auto-intitulados democratas que o são apenas porque a circunstância histórica os faz viver numa democracia para a qual em nada contribuíram. Aos democratas de direita, em especial aos meus amigos, que muito respeito, peço-lhes a compreensão e a tolerância para este firme mas necessário desabafo.

A Esquerda perdeu as eleições. E quando digo Esquerda, quero-me referir a todos quanto, colectiva ou individualmente, sabem que a luta é e será permanente porque a história não se fixa por quaisquer resultados eleitorais como alguns revivalistas ressabiados de direita ou mesmo alguns nostálgicos e dissimulados salazaristas, que hoje e agora, com a arrogância néscia que os define, nos querem euforicamente fazer crer.

A Esquerda a que pertenço por ideologia, convicção e consciência não se mobiliza para pequenas batalhas de vitórias transitórias. Apesar disso, essa Esquerda tem a noção clara da importância daquelas e sobretudo aprendeu com a luta e com as dificuldades a resistir perante as derrotas, como esta de 5 de Junho, consciente das condições combinadas, complexas e profundamente desiguais de um sistema globalmente perverso que, no momento histórico atual, tornou claramente refém o poder político democrático de outros poderes que, atrás daqueles, o amanham à feição sem que para tal se tenham de submeter a votos.

A Esquerda que me tem vindo a fazer um cidadão coerente e solidário, no pensamento e na ação, confirma e valoriza a importância da democracia representativa mas reconhece, com igual vigor e seriedade, as suas limitações. Por isso, trata-se de uma Esquerda que não pode deixar de apoiar e enaltecer o empenhamento, a luta e a dinâmica organizadas no sentido de desafiar, conscientemente, o aprofundamento dessa mesma democracia, convicto da possibilidade do seu necessário e constante desenvolvimento a favor da dignidade das pessoas sustentada, como é óbvio, numa maior e mais empenhada equidade social. As eleições foram, no tempo e no espaço, apenas um momento de uma ação no âmbito de uma luta política mais vasta que urge continuar e aprofundar …

Imagem retirada DAQUI

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OS INTELECTUAIS - SILÊNCIO IMPOSTO OU PROSTITUIÇÃO DE LUXO?

 

corpoadentro

Imagem retirada do BLOG AS LEITURAS DO CORVO

 

CORPO ADENTRO de Bernardo Coelho

A primeira grande investigação sobre a prostituição de luxo em Portugal.

Corpo Adentro é um olhar que desvenda o denso e oculto quotidiano destas mulheres, prostitutas e acompanhantes. Uma intensa e rigorosa pesquisa que permite compreender como as acompanhantes dão corpo a uma identidade sexualizada.

 

A analogia não é, de todo, despropositada …

Os tempos de hoje exibem, aos olhos de qualquer moral de reputação merecida, para além de um desprezo indecoroso pelo FUTURO, perplexidades inaceitáveis feitas de múltiplas iniquidades ofensivas ao respeito pelas pessoas e insuportáveis nos planos das exigências mais elementares de justiça social. Embora submersa em bens materiais de toda a casta, a sociedade no seu conjunto oferece-nos, com efeito, uma triste e inquietante QUALIDADE tendo presente os valores da DIGNIDADE HUMANA e da JUSTIÇA SOCIAL que, pela sua centralidade, determinam e autorizam o julgamento de mal-estar e apoquentação.

 

É neste quadro, tendo em atenção a constatação do evoluir histórico, que os INTELECTUAIS parecem ter perdido lentamente e sem recuo patente, a militância forjada na sua autonomia de afirmação de pensamento e de crítica e o desperdício do seu poder mobilizador, acima dos interesses egoístas de grupos e das intolerâncias preconceituosas dos partidos. Estas características, cívicas e morais, associadas ao reconhecimento social das suas competências, profissionais e académicas, aceites como excepcionais, são as que lhes conferem (ou concediam) a legitimidade e o enorme respeito público para fazer valer não só o direito mas, sobretudo, o dever de intervir em questões de interesse e de preocupação de ordem geral, em nome de uma “consciência colectiva” que importa(va), permanentemente, promover e atualizar.

Desgraçadamente, hoje, apesar da expansão das escolaridades, presencia-se o fenómeno intrigante do progressivo distanciamento entre as chamadas elites ditas cultas e a generalidade das pessoas comuns através de um movimento perverso de sobrevalorização daqueles em desfavor da acintosa vulgarização e empobrecimento crítico destas, numa lógica de reforço da dominação política, económica e social, que acrescenta a esta subjugação, o necessário e conveniente projeto de hegemonia cultural e ideológico, adaptado às suas particulares exigências e prementes necessidades dos tempos. Este fenómeno enredador, para além de questionar o papel da ESCOLA que temos e da ORDEM que esta serve, torna-se evidente a formação de uma nova classe de “pregadores mediáticos” que tem a função serventuária e missionária de esclarecer o “povo”, esse corpo ignorante e bruto, no intuito de o trazer à boa razão e de lhe indicar o caminho correto e prometedor da paz social que a “todos” interessa.

Quanto a mim, a VIDA, através das pessoas concretas que nela habitam e das suas histórias, tem-me ensinado a resistir e mesmo a rejeitar o assédio das melodias do individualismo abstracto e rarefeito do ser humano decorrente dos diversos liberalismos que, hoje e a todo o momento, nos sitiam. Continuo a pensar que o homem, no seu essencial, se faz no quadro objectivo das suas relações sociais e, como tal, não alinho numa concepção metafísica da pessoa que trata com reverência a multiplicidade do bem individual em relação ao bem comum e a separação das pessoas em detrimento da sua interdependência.

É neste quadro de interação social e contextualizada que julgo ser possível o RECONHECIMENTO DO OUTRO como uma necessidade humana fundamental e se (re)estabelece a dignidade das pessoas como formas necessárias e igualitárias de aceitação, ao contrário de honras espúrias e de honorários suspeitos que fazem dos canalhas mediáticos gente respeitável, desinteressada e qualificada. Que saudade da nobreza e da dignidade dos INTELECTUAIS de outrora que, ao contrário de nos convocarem para um sentido duvidoso de responsabilidade nos apelavam para a uma outra e diferente OBRIGAÇÃO; a de lutar pela DIGNIDADE e pela JUSTIÇA, humana e social …

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domingo, 5 de junho de 2011

SÓCRATES, DESPEDE-SE DE 1º MINISTRO A CAMINHO DAS PRÓXIMAS PRESIDENCIAIS

 

Como podem imaginar, não sou Sócrates, nunca fui, não serei no futuro certamente mas, não sei se terei de engolir, um dia, este “batráquio”, por sinal, de modo nenhum anuro. Habilidoso como neste discurso de despedida, registo, o derrotado 1º Ministro se afasta daquela insolência de estilo que levou, associado a políticas claramente por muitos rejeitadas, uma parte do eleitorado a “correr com ele” e, com um tiro que mata dois coelhos, mostrou a Cavaco a inteligência de um homem não ressentido que tem o arcaboiço impudico de passar a mão, embora enjoadiço, pelo … pêlo, de todos os portugueses.

 

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Os candidatos que, de braços dados, vão conflituar nas próximas presidenciais

Ao contrário, o lepidóptero Capoulas, em momento de acefalia provavelmente transitória, penso eu, responsabiliza a “estrema-esquerda” do revés indigesto do seu grupelho larvícola. As contradições do costume …

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5 DE JUNHO - ENTRE A ESPERANÇA E O DESESPERO

 

Li o que não pude deixar de ler, escrevi apenas e-mails improrrogáveis e nada fiz que importe aludir ao longo desta última semana. Não obstante, andei muito atarefado, ou melhor, alegremente azafamado com convívios, afectos e memórias de stupidfamiliares e amigos que me fizeram viver e reviver. Ainda bem. Não dei por mim, nesta feliz circunstância, acareado com aquela vontade indeterminada, e de arriscada auto-compreensão, em ir de companhia com esse folguedo eleitoral feito de um vazio político penoso e desesperante. Mormente, descansei da perversa comunicação social que presta aquele submisso, comovente e patológico papel de perversão democrática.

Sou um, entre muitos, que entende que a democracia é tanto mais democrática quanto mais esclarecidos forem os cidadãos. Assistir, assim, à degeneração mórbida das inteligências estimulada por múltiplos figurantes, nos quais incluo, julgo que com toda a propriedade, os supostos doutos “politiqueiros” que se travestem de imparcialidade, constitui, para mim, o clímax do masoquismo moral e intelectual da farsa eleitoral. O PS recusa os privilégios de Marcelo mas não tem a vontade, e por isso dispensa a coragem, de fazer alinhar a prática com o discurso que a ocasião madrasta solicita no seu despudorado significado oportunístico. Mais do que discrepância, estamos na presença da eficácia de uma produção procurada da dita degeneração que serve aquela alternância que cria a verdadeira gordura do sistema; o sebo e banha dos seus gulosos.

Nesta pantomina trágico-cómica, os gulosos insaciáveis na voragem da sua avidez, tudo fazem para tornar os cidadãos em esqueléticos eleitores, mendigos de um direito que virou dever de poder escolher apenas os pratos do dia de um cardápio que exala o fedor da burocracia acomodada pelo mundo das negociatas, ambos com a reputação em baixa, atravessando desavergonhados as ruas da amargura ética. Como o passado recente tem vindo a acusar, os compromissos assumidos valem até ver e os direitos com facilidade são engolidos na sua historicidade pelas bocarras desses chulos glutões. Entre a esperança e o desespero, resta-me ainda a dignidade da história e a referência daqueles que serviram sem nada pedirem em troca. Todavia, até quando esta memória me dará energia para acreditar?

Imagem retirada daqui

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domingo, 29 de maio de 2011

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A MELANCOLIA DA ARISTROCACIA DE OUTRORA

 

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Como recordo o tempo da solidão e da incompreensão que forjava em mim a vontade quase religiosa do desprendimento e do desprezo pelas regras comuns. Como sinto a nostalgia desse tempo em que me imaginava um ser superior, diferente e tranquilamente distante. Como me lembro desse tempo maravilhoso em que o belo e as paixões atraíam os meus sentimentos e os meus pensamentos e os devaneios ardentes e sonhadores me bastavam. Esse tempo em que a vida era simples e a originalidade quase tudo para um viver pleno. O sofrimento fortuito, esse, não tinha energia para criar dor porque as ilusões atentas não o consentiam e a mágoa me era desconhecida. Hoje, velho, enfastiado e ocioso, sinto na alma a incapacidade da aristocracia de outrora e, com tranquilidade, vivo a presença de uma decadência sem chama e marcada pela melancolia. Apesar de tudo, com a mesma tranquilidade de outrora …

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sábado, 28 de maio de 2011

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A VISIBILIDADE QUE DÁ EXISTÊNCIA À INSUFICIÊNCIA DA DEMOCRACIA

 

Transgénicos

Lamenta-se não ter conhecimento suficiente da sociedade que está perto apesar de outros, sem rebuço, se permitirem mostrar o mundo que se sente e se percebe mais afastado. A encenação ganha aí o seu espaço e desproporciona-se perante a descuidada dispersão. Lasciva e com intenção, trabalham-se os palcos que importam. De modo matreiro, o visível e o invisível oferecem, nesse tempo, percepções, sentimentos e representações numa desapercebida economia da atenção. A ficção mediática esquissa, então, as realidades necessárias feitas de coisas cinicamente simples, no entanto, fixadas pela estranheza e pela opacidade. A transparência, o suposto cabouco fundamental da democracia, transforma-se docemente no seu mais previsível buraco tóxico.

Devorados pela impudica sedução do consumo, pelo desassossego de um quotidiano agitado, pelo trabalho inumano e desregrado ou, ao invés, pelas preocupações da sua escassez, mais surrados se fica pelo desmando torpe da (des)informação. Acresce, que a ignomínia insatisfeita ou insegura, reanima-se em permanência com as técnicas subliminares e eficazes de invocação da atenção que importa e interessa às proeminências sociais discutíveis. É assim que a encenação ocupa, nesta candonga bastarda, o lugar das ideologias e, deste jeito, procura a fulanização de uma suposta credibilidade que justifica o abastardamento.

 

Nesta campanha eleitoral, este fenómeno é de mais evidente. Para que tudo fique na mesma joga-se na personalização política centrada em dois rostos, encenam-se conflitualidades grupais e pessoais, teatraliza-se seduções de toda a espécie mas evita-se apresentar o que nos bastidores já se decidiu e o que na ação política concreta se pensa fazer. A promiscuidade da generalidade da comunicação social com estas teses da manipulação faz do teatro político um instrumento de poder que deprecia a democracia e desqualifica a inteligência crítica da cidadania.

Assim sendo, pior do que as marionetes centrais, na minha modesta mas enraivada opinião, confesso, são os energúmenos marginais e serventuários que desfilam nas pantalhas da televisão. Estes não fazem mais do que regurgitar, com ares aparvoados e insolentes, imitações contrafeitas demasiado previsíveis, acrescidas de trivialidades idiotas e burlescas. A esfera do mercado, e o corporativismo jornalístico a ela associada, é abusivamente invasiva perante um poder político inabilitado que tenta ocultar a sua penosa condição de gente vencida e tristemente colonizada. E assim se vai iludindo os pacóvios exibindo um tosco folclore, ao mesmo tempo que se sonegam as verdadeiras intenções e o alcance das suas duras consequências. E são estas que convêm serem esclarecidas …

Imagem obtida aqui

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

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OBRIGADO … E ATÉ SEMPRE

 

agradecimentos 02 - POESIASMENSAGENS

Venho por este meio, que as novas tecnologias me disponibilizam, agradecer publicamente a todos os que me permitiram, pela densidade relacional, humana e social, sempre muito presente e intensamente vivida, crescer como pessoa e profissional ao longo deste caminho explorado enquanto avaliador externo, funções que exerci apaixonadamente desde 2002, no âmbito dos processos de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC) e que o silêncio indesculpável da Agência Nacional (ANQ) para a Qualificação me diz ter chegado ao fim.

Entre eles, para além dos adultos a quem proximamente dedicarei um texto próprio, quero destacar os diretores, os coordenadores, os profissionais e os formadores dos respectivos Centros de Novas Oportunidades (CNO) com quem tive a alegria estimulante de partilhar perspectivas, reflexões, incertezas e paradoxos na busca perseverante de respostas necessárias e entusiasmantes na promoção sempre espinhosa e exigente desse propósito mais nobre da Educação de Adultos que é o da transformação social e do desenvolvimento inteiro das pessoas, tendo em conta a historicidade das suas realidades concretas e contextualizadas.

Aprendi com todos eles que esse propósito ético e ambicioso não constitui, bem pelo contrário, uma tarefa clara e simples e, sobretudo, se manifesta mais custosa quando as incompreensões de “estranhos”, deliberadas ou inconscientes, de maior ou menor poder, nela se imiscuem embaraçando a exigência desse desafio que se vai disputando no condicionado e persistente ajuste capaz e diário de necessidades, capacidades e expectativas dos que, em devido tempo, não tiveram a sorte histórica das circunstâncias e o reconhecimento público e político, merecido e coerentemente atuante.

Aprendi com todos eles que reconhecer hoje, mais do que remediar o não reconhecimento do passado, não é propriamente “qualificar”; é validar, equiparar, permitindo e favorecendo a formação e a qualificação futura e desejável ao valorizar, com critério, os saberes e as competências que não se esgotam e não cabem no livro escolar, a bem não só das pessoas menos escolarizadas mas também, e esse não pode ser de modo nenhum um objectivo atraiçoado, em benefício das múltiplas comunidades em que aqueles se inscrevem, a favor de um bem comum com ganhos inevitáveis para todos. Agradeço, assim, a todos os que me deram a perceber que o RVCC não oferece nada a ninguém e, coisa oposta, me fizeram compreender que o RVCC pode e deve, sobretudo, saber criar FUTURO empenhando a inteligência sofrida mas confiante dos adultos.

Agradeço igualmente o testemunho de todos aqueles que, trabalhando no campo deste reconhecimento assimilaram de desfrutada e vivida experiência e me transmitiram com inteligência e responsabilidade, a importância de provocar nos adultos menos escolarizados, com percursos profissionais de menor qualificação, a curiosidade pelo saber que alarga horizontes, o prazer pelas aprendizagens necessárias a novos sentidos aclarados, a vontade de querer saber mais para melhor significar a (re)descoberta de si, dos outros e do seu mundo e, sobretudo, me chamaram a atenção para a relevância da motivação que se renova por uma confiança reconquistada que permite e favorece os anseios legítimos e as reinvenções necessárias, próprias e colectivas.

Aprendi com todos eles que, nesta escala de ação, é isto que o FUTURO exata e primordialmente convoca; curiosidade e o gosto pelo saber, o prazer de aprender, a vontade de saber mais e mais utilmente e a motivação que alimenta a energia da confiança necessária para se ser mais ainda e de se estar mais plenamente nas esferas da cidadania que o tempo atual requer de todos nós. Reconhecer, mais do que Validar e Certificar, é criar uma condição especial e bem humana de reconciliação com o SABER, com o APRENDER e com a VIDA que nos pode ajudar a ser mais e melhores pessoas e cidadãos.

Este tempo que hoje se vive exige, como se sabe, pessoas mais informadas, mais confiantes, mais exigentes. O RVCC, indesmentivelmente, acrescenta a projetos anteriores de referência no campo da Educação de Adultos, a ideia de alargamento e expansão. Mas são aqueles a quem eu hoje aqui presto, juntamente com muitos outros, esta breve mas singela homenagem, que contribuíram com a sua disponibilidade, competência e sensibilidade para este novo ciclo nos domínios da Educação e da Formação. Saibamos, portanto, acrescentar à riqueza da herança recebida algo de verdadeiro e socialmente transformador. Um obrigado sincero a todos vós. Até sempre.

Almiro Lopes

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

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O DESAMPARO E AS ILUSÕES ELEITORAIS

 

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Nós, os humanos, procuramos os laços sociais para nos defender dos nossos múltiplos e diferentes desamparos, sentidos, vividos ou imaginados. É a natural necessidade de proteção que nos leva ao alimento, ao afecto e ao amor. Ao longo do tempo, a natureza dessa dependência vai mudando, evoluindo do fisiológico vital para o alimento que dele transcorre para o universo complexo e humano do psicológico.

Logo, procuram-se as fontes que os desejos insatisfeitos reclamam, sejam elas religiões, mestres ou verdades, na ilusão de um qualquer acolhimento que nos transmita conforto e tranquilidade. Neste devir natural, surge então de modo dramático, um tempo cinzento em que descobrimos a insuficiência dos que nos são próximos e, em resposta a um forte apelo de sobrevivência, somos atraídos pela comodidade da oferta intrusiva de outros ideados poderes, dos deuses às teorias, na busca humana das ilusões necessárias à proteção sentida, pela sua carência, como angustiante e inconsolável.

Com o passar do tempo, a autonomia que descobrimos e desejamos passa a conflituar com as ilusões que a vida entretanto nos denuncia e, igualmente, embora de modo paradoxal, com a atração por nostalgias que nos fazem reavivar memórias em busca de um reencontro com um passado infelizmente perdido. É neste quadro de angústias que, através de construções imaginárias e simbólicas, internas ou voltadas para o exterior, os humanos procuram respostas de razoabilidade e de esperança histórica. O cinismo e a hipocrisia da argumentação política, densamente presente nesta campanha eleitoral, não eliminam – bem pelo contrário – este sentimento generalizado de desamparo em que todos nós, ou quase todos, vivemos.

Para memória futura MEMORANDO DA TROIKA

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

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AS NOVAS OPORTUNIDADES E OS VELHOS PRECONCEITOS

 

01511A dupla Sócrates/Maria de Lurdes trataram, do meu ponto de vista, mal a educação e muito mal os professores. No entanto, não vou argumentar sobre essa realidade controversa e mais geral. Vou apenas referir-me à Iniciativa Novas Oportunidades (INO), questão aqui em apreço, tendo em atenção o que ontem pude ouvir no quadro fragmentado, e sempre simplificado, do folclore noticioso. Para descanso meu e de outros, uma nota prévia; a 5 de Junho não votarei Sócrates (“jamais”) e muito menos em Passos ou Portas. A nota prévia justifica-se porque quero afirmar, convicta e ousadamente, que a INO constituiu, talvez, a medida de política formativa mais relevante e positiva tomada pelo governo PS. Ao ouvir ontem - através da dita escolha noticiosa da sempiterna “inocência” da comunicação social - o cinismo aferrado dos interesses políticos de Sócrates, Passos, Portas e até de Carrilho, cumpre-me telegraficamente dizer o seguinte:

 

1. A INO constitui um programa diversificado que não se reduz, como muitos pensam, aos processos de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC). Este dado quando omitido gera, inevitavelmente, uma confusão imprudente (baseada na ignorância) ou intencional (fundada na má-fé).

2. Assim sendo, o processo RVCC não é em si, nem pretende ser, um processo formativo ou qualificante; trata-se apenas de validar um conjunto de saberes e competências (de acordo com um referencial estabelecido) e, através dessa validação, certificar o adulto com uma determinada equivalência (escolar ou profissional) que lhe permita, e isto é que vale sob o ponto de vista humano, social e económico, inscrever-se em dinâmicas e projetos futuros de natureza essencialmente formativa e profissional (que a INO deve favorecer e/ou proporcionar) e não propriamente académica, como suspeita e receia a elite que Portas representa.

3. Certificar não é, necessariamente, qualificar. Este é o erro, involuntário ou deliberado de Passos e de Carrilho. Certificar é, neste contexto da INO e acima de tudo, conferir um passaporte para a formação/qualificação útil e necessária do adulto, nos planos pessoal, social e profissional. O conceito de educação e formação ao longo da vida, tão defendido por muitos que menosprezam o RVCC, a isso obriga. Caso contrário, esclareça-se as alternativas (concretas e não retóricas) que legitimam a depreciação mesquinha feita de uma persistência teimosa e duvidosa e de uma argumentação tão tola e primariamente elaborada.

4. Acrescente-se, no entanto, que o processo de RVCC, não tendo por centralidade a vertente formativa, não deixa de constituir um momento reflexivo de relevância na relação do adulto com os saberes, uma experiência formadora irrepetível nos domínios da autoconfiança e da motivação e, sobretudo, um espaço de descoberta que se materializa numa progressiva elaboração holística de projetos de vida assentes na importância que advém do reconhecimento social do que se sabe e sabe fazer e, com valor igual, da consciência que o próprio processo induz e possibilita de auto-reconhecimento das limitações próprias que interessam trabalhar e superar.

5. Como se pode subentender, a INO considera, na sua engenharia, entre outros dispositivos, cursos de educação e formação de adultos (EFA) que, esses sim, têm propósitos claros de formação, ou seja, de qualificação e, até, de dupla certificação/qualificação (escolar e profissional). Se essa engenharia é uma construção capaz de acolher a diversidade de realidades e públicos e a multiplicidade de propósitos (devida e claramente explicitados), é uma questão que importa avaliar social e politicamente, sem a qual se contribui para a confusão instalada que os políticos, sem pudor, disputam impudentemente em benefício próprio. Aqui, Sócrates está obrigado e esclarecer e a provar a qualidade da Iniciativa. Certificar sem criar, de modo pertinente, adequado e coerente, uma rede escalar de respostas coerentes às necessidades e expectativas geradas (pessoais e sociais) pelo processo RVCC, pode constituir um investimento megalomaníaco de retorno muito suspeitoso para não dizer criminoso. O debate político, por si, simplifica o que merecia mais honestidade e nobreza ética; as campanhas eleitorais já nem sequer simplificam … Destroem a disposição democrática dos cidadãos.

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A PUTA QUE OS PARIU OU … “PUTA QUE OS PARIU”?

 

José Saramago

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»


José Saramago - Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148 – texto enviado por Manuel Micaelo

Imagem retirada daqui

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

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O desassossego da oportunidade

 

Um artigo de opinião onde se pode ler …

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Os grupos sociais que produzem as crises mantêm em geral, e salvo casos raros de colapso sistémico, a capacidade de definir a crise de modo a perpetuar os seus interesses durante e depois dela. A crise só deixa de ser destrutiva na medida em que se transforme em oportunidade nova para as classes sociais que mais sofrem com ela. E, para isso, é necessário que os termos da crise sejam redefinidos de modo a libertar e a credibilizar a possibilidade de resistência, o que implica luta social e política.

ACRESCENTO, provavelmente arrebatado, manifestando em alto e bom som, que o movimento socializador do reconhecimento do(s) indivíduo(s) e, sobretudo, do indivíduo enquanto totalidade, pode e deve inscrever em si a necessidade, e como tal, a legitimidade humana e moral das lutas social e política. Um crime de roubo, facilmente se reprova porque o direito à propriedade, sagrado que é, foi amputado. E os crimes contra a dignidade e a integridade das pessoas? E onde estão eles, esses criminosos, muitos dos quais se passeiam pelos ecrãs das nossas televisões? Tenho para mim que a cidadania, e o sentido de humanidade que a engrandece, através da indignação ativa e consequente, constitui um pilar essencial à criação de relações de reconhecimento eticamente amadurecidas, pressuposto insubstituível na (re)construção efetiva de uma comunidade justa e solidária feita de cidadãos livres. Para mim, com toda a sinceridade o afirmo; há muitos criminosos da fato e gravata em liberdade … para mal do BEM COMUM !

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

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UM PALPITE - VENHA A CONFIRMAÇÃO …

 

Em Março de 2007, especulava-se já sobre o sucessor para Carvalho da Silva. O próximo congresso está cada vez mais perto. Aqui vai o meu palpite. Apresento-o a quem anda muito distraído ou desinteressado. Um homem de convicções, sereno, mas de uma assertividade acima do comum. Os “poderes instituídos” que se cuidem. As aspas significam. Temos HOMEM para “eles” ….

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quinta-feira, 5 de maio de 2011

UM AGRADECIMENTO

 

Este quadro não veio diretamente da ACADEMIA DOS INCAMMINATI (encaminhados) mas pintado por MARIA CÂNDIDA LOPES, a quem solicitei a obra. Trata-se de um pormenor - o menino que rema - do quadro “Sermão de São João Baptista”, de Ludovico Carracci.

Ludovico Carraci, que foi diretor da Academia dos Incamminati, “tornou-se o principal intérprete das ideias expressas pelo cardeal Gabriele Paleotti no Discurso Sobre Imagens Sacras e Profanas, no qual se insistia no poder comunicativo das imagens sacras e se evidenciava a necessidade de uma política de controlo sobre os conteúdos expressos”. É nesta perspectiva que Ludovico evita as “complicações tardo-maneiristas de difícil compreensão para o povo”, procurando “uma pintura simples que exprimisse com clareza os conteúdos sacros”. Desta escola saíram todos os grandes representantes da pintura bolonhesa do século XVII, de acordo com A GRANDE HISTÓRIA DA ARTE, edição do jornal Público.

À Maria Cândida o meu reconhecimento e aqui fica o seu email para quem a quiser contactar: didita.lopes@gmail.com

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A VELOCIDADE DA TRANSGRESSÃO

 

Não sou um condutor exemplar, confesso. No entanto, acrescente-se, mais por razões de competência em matéria de condução do que propriamente por incumprimento exigente do dever de cidadania no que às regras de trânsito diz respeito. O que costumo dizer aos amigos, é disso expressão metafórica e significativa; que apenas receio as armadilhadas como as dos limites de velocidade 50 que nos aparecem quando menos se espera e que a descontração de uma condução responsável, apesar da sua “inadimplência”, possa virar crime.

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No entanto, se este aspecto merece alguma preocupação pela perplexidade do seu desproporcionado carácter normativo, por muitos exaltado, para mim o 50 faz todo o sentido pelo seu valor indicativo cujo respeito deve ser naturalmente vigiado, tendo em conta os distintos contextos em que o dito sinal cumpre a sua função. Se este raciocínio não é de todo despropositado, o problema passa a ser, não o do respeito rigoroso pelo 50, mas o da conflitualidade das definições moral e normativa da transgressão. E é aqui que o irrisório me parece que acontece por força de conveniências por vezes absurdas e inconfessáveis e dos múltiplos testemunhos que suportam estes julgamentos e suspeitas.

Nesta perspectiva, que é hoje, em função de circunstâncias singulares, particularmente interessada, não no sentido da desculpabilização pessoal mas da razoabilidade do sentido ético e comunitário, não posso deixar de referir e distinguir o conteúdo das diversas contra-ordenações que o Código prevê, nomeadamente aquelas que, inequivocamente, são consequência de incivilidade e de irresponsabilidade notórias e outras, como esta dos 50, em que a percepção generalizada  - e considerável - das realidades atrapalha claramente a bondade e a justificação normativas. A lei, ao atender (e não a ocultar) estas suas fragilidades, desperta no cidadão a reconciliação com ela por que expressa a reciprocidade relacional do reconhecimento mútuo, necessária à compreensão da estrutura que a causa e motiva. Não se forje uma eticidade formal que avilte a acuidade da eticidade natural.

Em suma, se o espírito de perseguição me acossasse, diria que a polícia não gosta mesmo de mim …

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sábado, 30 de abril de 2011

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A RESIGNAÇÃO LEVA-TE PARA ONDE OS OUTROS TE QUEREM LEVAR

 

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Ter a coragem de procurar e construir a liberdade, a nossa liberdade pessoal, supõe atender-se à aprendizagem dolorosa da independência, não temer apostar nos desafios das diferenças e aproveitar, com inteligência, a fecundidade, mesmo que circunstancial, das nossas histórias, paixões e energias. O julgamento normalizador, normalmente cínico, de feição vigilante e paternalista, oriundo de poderes múltiplos de duvidosa legitimidade, constitui a ameaça que importa saber nomear, desaprovar e, com força moral, travar com ele o combate necessário.

Para a compreensão das suas origens, importa lembrar que a definição do aceitável foi, ao longo de tempos mais recuados, direito quase exclusivo das minorias dominantes, da religião e do Estado. Regulava-se a vida de todos e de cada um de nós a pretexto da coesão moral e social que convinha respeitar e manter. Eles e as suas pretensões, umas confessáveis outras nem tanto, ditavam as normas do admissível e traçavam os limites toleráveis dos desvios. Assim se arquitetavam as referências morais a serem observadas e os comportamentos que as enalteciam.

 

Mais tarde, a ciência vem-nos prometer a objectividade como coisa certa e, nessa circunstância, o saber laico ousou, arrastado pela firmeza da convicção, perturbar as verdades eternas do divino. A partir daí, os deliberantes passaram a competir entre si a definição e convocação axiológica da norma e a condenação moralista do desvio nem sempre coincidentes ou mesmo divergentes. O legítimo, ao balançar entre o domínio do teológico e o terreiro profano da racionalidade, abre uma nova época em que o saber, o poder e a manipulação crescentes, numa intimidade promíscua, conduzem à atual desconfiança das verdades prometidas e das respostas ansiadas.

Deste modo, as verdades captam, na perplexidade do seu percurso evolutivo, a prerrogativa da invenção, da ocorrência e da substituição em função das interpretações dos momentos e das forças que as podem infundir. O futuro, o presente e o passado confrontam-se, assim, no campo turbulento das representações que se atrapalham no diálogo inevitável que o simbólico insiste em manter com o imaginário, permanentemente vigiadas por quem procura, na suposta distinção social, a sobrevivência dos privilégios em risco. É neste contexto que o passado, que sempre arrastou consigo um estranho apelo a velhas e superadas ordens, perante um futuro improvável e pungente, se torna chamada potencialmente dissoluta e traiçoeira.

Como é sabido, cada tempo tem os seus poderes que se servem de todos os seus expedientes e artimanhas para arrostar as inquietações de todos nós. É assim que, com toda a naturalidade, se vai assistindo ao cortejo mediático de sumidades ditas respeitáveis e sabedoras, gente silenciosamente acolhida quando não subsidiada por aqueles difusos poderes, propondo e justificando as medidas a serem tomadas para a desejada salvação de todos nós. A vigilância política e a ação colectiva não dispensam, antes exigem, a firmeza de tomar sobre nós a nossa própria coragem e vontade. Sem esta consciência feita de razão, liberdade, coragem e vontade, parecemos aqueles rafeiros obedientes que muito ladram mas … não assustam a canalhice dos que sabem aproveitar as “oportunidades” sem qualquer tipo de preocupações éticas e sociais.

Imagem obtida em HORTA DO ZORATE

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sexta-feira, 29 de abril de 2011

OS QUATRO

 

Nota pessoal – Quando o aparato a 4 vozes precisa e se serve de tanto “poder simbólico”, é no silêncio que elas buscam que se trama a ocultação das razões que desejam reprimir.

 

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A dissolução da Assembleia foi o pretexto para que o atual Presidente da República transferisse para Belém as comemorações oficiais do 25 de Abril. Seguiram-se quatro discursos do atual e de cada um dos ex-presidentes. Quatro discursos que poderiam ter sido um, tal a sintonia, tal o encaixe e distribuição de papéis, tal a comunhão de análises e soluções.

Disseram-nos que todos somos responsáveis pela situação a que o País chegou, todos! Disseram-nos que os portugueses andaram a viver acima das suas possibilidades, que quiseram ter casa e educação para os filhos. Disseram-nos que o Estado gasta para lá do que pode com escolas, hospitais estradas e afins. Disseram-nos que o que ainda nos vai valendo é a União Europeia – e agora o FMI – para nos acudir nas aflições. Disseram-nos que vêm aí tempos ainda mais difíceis, tempos de brutais sacrifícios e dificuldades. Disseram-nos mal dos partidos, de todos os partidos e que é tempo destes porem os interesses do País à frente dos seus. Falaram-nos da dívida, do défice e da crise, e que agora não há outro caminho, que não há alternativa, que não seja a da união de todos, a união nacional, para apoiar e aceitar esta cruz.

 

Tão revelador como o que foi dito, foi aquilo que foi escondido pelos quatro. Não se ouviu uma palavra sobre os lucros dos grupos económicos e financeiros, sobre a forma em como saqueiam o Estado e exploram a força de trabalho. Os quatro passaram uma esponja sobre as responsabilidades da União Europeia, da sua lógica e natureza perversa, desse rolo compressor ao qual voluntariamente o poder político se submete. Com idêntica comunhão de interesses, Abril no seu conteúdo e projeto de futuro, foi ali esquecido e abandonado, tal como a própria Constituição da República que, cada um dos quatro, a seu tempo, jurou cumprir e fazer cumprir.

Sacudindo a água do capote, os quatro falaram assim como se não tivessem tido, eles próprios, as maiores, repito, as maiores, responsabilidades na atual situação do País. Um branqueamento tão mais necessário quanto se intensificam os apelos para um «pacto», um «compromisso», um «acordo de regime» que garanta uma vez mais os interesses dos grupos económicos e financeiros que, naquela manhã, os quatro, tão bem ali estiveram a representar.

Vasco Cardoso

Artigo de opinião, simples, claro e elucidativo. Pode ler-se no AVANTE

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