quarta-feira, 29 de junho de 2011

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A IDEOLOGIA DA NÃO-IDEOLOGIA

 

ponzi

A agenda dos nossos problemas oscila de forma descomedida de acordo com circunstâncias e interesses onde a intransparência constitui o entretenimento mais irritante para o cidadão comum. A exasperação agudiza-se quando esses problemas são apresentados com uma frequência inusitada encapotados por discursórios pragmáticos ou técnicos indecifráveis, por vezes acompanhados por obscuras retóricas políticas mas raramente são, o que não deixa de ser estranho, mostrados como obrigatoriamente doutrinários. A desordem anuncia-se nesta lógica obtusa, como convém, concordante com as variações que as ditas circunstâncias avisadamente aconselham a quem bem nos governa e pretende prolongar tal governança. Em certos momentos vocifera-se sublinhando a triste desordem política, noutras ocasiões brada-se denunciando o desarranjo financeiro mas, amiudadamente, faz-se emergir a indignação pelas desventuras económicas e descarrega-se a bílis à aversão brava e ingénita pelas “balbúrdias” sociais.

Neste tempo político actual, confesse-se que ainda bem curto, a mudança de caras na governança tem disso sido, pelo burlesco, paradigmático. A quietação envolvente que uma comunicação social neutra, amansada e optimista procura transmitir é, em si, um pretenso mas esclarecedor sinal de embaraços já galgados que o cidadão comum, estúpido, não sente nem pressente. O País sossegou, vejam só, por que o arrogante e convencido Sócrates foi de abalada para Paris prometendo, nos tempos próximos, regular o seu silêncio ocultando-se nas brenhas da filosofia. A economia, num átimo, recuperou ânimo e, com este ganho destapou perspectivas críveis que, com a ajuda esperançada dos e nos sindicatos, promete fazer da acalmia social uma certeza necessária já felizmente próxima.

Como se pode depreender, por exclusão de partes, o essencial da crise está, como coisa sobrante, na relação milagrosa dos dinheiros com a engenharia achada dos seus créditos, expressa na prestante ajuda solidária e competente da troika e com a anuência inequívoca de cerca de 47% do eleitorado português. Doravante, neste caridoso quadro, resta-nos metamorfosear os protestos sociais, dos mais vivos aos vulgarmente acanhados, em merecidas propostas de louvores ao Coelho, ao Barroso e, com mérito acrescido, à Merkel e ao simpático Sarkozy, não esquecendo o Paulinho democrata e, pelos vistos, cristão que não é exactamente, faça-se justiça, o Paulinho inveteratus beijador das feirantes.

E tudo isto, porquê? Porque os pobres são difíceis de contentar, os malandros calaceiros não têm emenda e os trabalhadores espreguiçam-se em demasia nos estofos da desqualificação e da incompetência, sugando o tesouro público para o qual apenas contribuem com a toxicidade e irresponsabilidade dos seus desvarios. Por isso, o coração do sistema não se pode entregar à esfera promíscua da produção onde aqueles vegetam mas, ao contrário, confiá-lo ao sentido ético e competente dos financiadores, garantes idóneos e incontornáveis de um ambiente económico socialmente promissor e saudável. Os madoffes são fantasias, as actividades criminosas dos offshores invenções e as dívidas de risco e especulativas na busca de dinheiro que não custa a fazer ou as engendradas pelas múltiplas donas brancas são meras induções sórdidas de gente ociosa que nada mais faz do que atrapalhar quem dá o corpinho pelo bem comum. Abaixo as ideologias. Viva a NÃO-IDEOLOGIA …

Imagem retirada do Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

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Educação e Formação de Adultos pouco escolarizados e a Iniciativa Novas Oportunidades

 

duvida

À minha amiga Dina Bernardo

Estabelecer uma relação entre a Educação e Formação de Adultos (EFA) e a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) é trazer para um debate exigente e espinhoso, sobretudo pela sua natureza ideológica e axiológica, a importância da capacidade individual e colectiva das aprendizagens, designadamente dos adultos menos escolarizados, tendo bem presente os atrasos estruturais nos planos da educação e da formação que se verificam na sociedade portuguesa, com as consequências sociais, culturais e económicas que se conhecem. Não sendo possível nesta breve reflexão inscrever tal aprofundamento, passo a expressar apenas algumas notas que considero relevantes na relação em análise.

 

Em primeiro lugar, importa referir os números expressivos de adesão aos processos de Reconhecimento e Validação de Competências (RVCC) e às novas ofertas de EFA que, pela sua ordem de grandeza, merecem um exame exigente e desapaixonado. Inevitavelmente estamos em presença de impactos, ganhos e perdas nas esferas do individual, do social e do económico que interessa avaliar e elencar. Neste panorama impressivo, será naturalmente pertinente questionar se a EFA é hoje já um sistema ou, ainda e tão-só, um conjunto generalizado e diversificado de práticas mais ou menos localizadas?

Uma ilação, no entanto, é-me permitida pelo contacto intensamente vivido com os adultos que têm respondido positivamente à INO; o Estado é visto por estes com simpatia e a ocorrência desta subjectivação, designadamente junto de uma população menos escolarizada, não é algo que se possa depreciar política e socialmente enquanto condição valiosa em termos da evolução próxima da educação e da formação dos adultos.

Valendo as percepções o que valem, neste contexto disputado de subjectividades e de racionalidades, designadamente no âmbito do RVCC, interessa apurar se estamos em presença de um mecanismo que reproduz e revalida desigualdades ou, pelo contrário, promove mudanças de natureza social intencionalmente comprometidas com processos mais amplos e desejáveis de democratização. A EFA constitui, como se sabe, um campo de múltiplas dimensões (do cultural ao económico, passando pelo educativo e que nestas não se esgotam) que interagem entre si de uma forma nem sempre harmoniosa e congruente, fazendo com que o critério decisivo não possa deixar de ser colocado na emancipação (pessoal e social) dos cidadãos, designadamente dos que não foram favorecidos pelas suas circunstâncias sociais e históricas.

É neste quadro, onde as políticas se constituem, que importa perceber a escala que se pretende dar à EFA e como esta acolherá (ou não) todo um património cultural e educativo de experiências significativas anteriores e das filosofias que lhes estiveram (e estão) subjacentes. As questões de proximidade, de emancipação pessoal e colectiva e de natureza e amplitude das mudanças não podem deixar de constituir referências fundamentais na valorização sistémica deste domínio socioeducativo enquanto modalidade institucional que se deseja com a mesma dignidade das restantes. Estas são algumas das questões que podem e devem orientar o debate que urge continuar, incentivar e aprofundar no domínio da EFA.

Uma outra face da temática relativa à EFA, que importa igualmente problematizar, tem a ver com o processo RVCC na sua relação com as aprendizagens no quadro mais amplo da Educação e Formação ao Longo da Vida. Nesta perspectiva, desde já, impõe-se uma nota inicial; o RVCC não pode ou deve ser considerado um simples ponto de chegada. O RVCC tem de ser promovido e, como tal, instituído seguramente como um ponto de partida ou de passagem para um processo educacional mais amplo e permanente capaz de (trans)formar as pessoas e as suas condições de existência. Neste contexto, torna-se, deste modo, desejável trabalhar e valorizar o processo RVCC optimizando a sua função formativa, nele inscrita, de um eficiente balanço realizado de saberes e de competências, tendo em vista o desenvolvimento viável e futuro de projectos pessoais e colectivos.

Acrescente-se à nota anterior, uma outra consideração sobre as evidências requeridas ao longo do processo de reconhecimento e validação e a natureza (colectiva ou individual) da sua focagem. A diferença na tomada de foco pode favorecer (ou não) o debate de problemas comuns e apadrinhar (ou não) abordagens partilhadas de possibilidades de acção. O terreno e a natureza das evidências orientarão (ou não) novas formas de perceber e perspectivar o meio e o mundo e, como tal, modos de acção distintos de operar sobre eles, reclamando naturalmente saberes e competências diferentes para responder a necessidades, também elas, logicamente diversas.

Por último, o factor tempo. Este constitui-se num elemento decisivo porque dele depende a qualidade de realização de um trabalho metodológico, formativo e organizativo capaz, tendo em conta, com rigor e realismo, as dificuldades de natureza educativa e cultural inerente a percursos escolares reduzidos da grande maioria dos adultos. A ocorrência e o desenvolvimento de autonomias de modo a alterar as relações, por vezes fundas, de desigualdades no plano dos múltiplos recursos associados à capacidade de aprender permanentemente, não podem continuar a ser pensadas como eternas inevitabilidades. Assim sendo, uma das questões pertinentes que se coloca é esta; será possível aos Centros de Novas Oportunidades, nas condições actuais e no âmbito global da INO, trabalhar os referenciais de competências-chave neste sentido crítico e transformador das pessoas e dos seus contextos de existência?

Imagem retirada DAQUI

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domingo, 19 de junho de 2011

A BONDADE DE UM TROPO ÚTIL

 

medina_carreira

O exibicionismo tem muitas variantes mas apenas a de natureza sexual é vista como patológica e, como tal, considerada uma perversão. O critério essencial consiste, sabe-se, na imposição de exibição ao outro que não o aceita ou, ainda, a um qualquer outro que não se encontre reconhecidamente capacitado para esse acareamento.

Não será tempo de alargar o conceito a outras manifestações humanas, designadamente de carácter político e ideológico com o propósito de tornar este mundo bem mais saudável?

Imagem colhida AQUI

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

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A ESTÚPIDA ARROGÂNCIA DA CHANTAGEM MORALISTA DEMOCRÁTICO-LIBERAL

 

Blogue

Ao desfolhar o “Le Monde Diplomatique” (edição portuguesa – Junho 2011) pude ler, logo na 1ª página, num artigo de Serge Halimi intitulado “Argumentos Loucos”, o seguinte parágrafo que, convosco, partilho.

NOTA - A imagem que acompanha este post foi desviada do blogue CONVICTOS OU ALIENADOS

Quando a justiça nova-iorquina recusou dar um tratamento de favor ao director geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), acusado de violação num hotel de luxo de Manhattan, um comentador que alinha pelo diapasão da casta dirigente francesa, política e mediática, ficou chocado com a “violência de uma justiça igualitária” … Acrescentou o seguinte, quase mecanicamente: “A única coisa de que se tem a certeza é que os sentimentos anti-elite alimentados por este escândalo vão aumentar as possibilidades da Frente Nacional de Marine Le Pen nas próximas eleições”.

O meu comentário está feito; expressei-o no título do post

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segunda-feira, 13 de junho de 2011

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DO EU SOLITÁRIO AO NÓS SOLIDÁRIO

 

Frei Fernando

Acabo de ouvir uma estimulante entrevista de FREI FERNANDO VENTURA na SIC NOTÍCIAS, com o jornalista MÁRIO CRESPO. Diria que aprovo, no essencial, o que o Fransciscano da Ordem dos Capuchinhos exprimiu, embora como ateu prescinda, e aguardo que dessa desobrigação ninguém me leve a mal, as suas referências a Deus e à Fé.

As suas palavras foram por mim tomadas na sua dimensão filosófica, ética e, sobretudo, política no seu apelo à coragem de experimentar práticas de solidariedade (e de liberdade) face ao OUTRO no sentido de consertar a ESPERANÇA destruída pela decepção, desfeita pela ruína da credulidade e arrasada pelo depauperamento da ideia entusiasmante de progresso.

Regenerar esse histórico laço prometedor entre os defensores do progresso e da justiça social a favor do OUTRO e da SOLIDARIEDADE que a inscreve constitui, hoje mais do que nunca, uma urgência que não pode esperar. O FUTURO, pese embora a desconfiança instalada, não pode vacilar entre a esperança frouxa e o desespero que suspende a ação. A confiança impõe-se porque, só ela, pode animar a vontade de mudar e de (trans)formar.

 VER E OUVIR a entrevista; vale apena …

A designação do post é o título do seu último livro.

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OS PRINCÍPIOS CONTRAFEITOS DE UM BEM COMUM TRAÍDO

 

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Riccardo Petrella, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, num pequeno livro que tem mais de uma década, “O Bem Comum – Elogio da Solidariedade”, refere que a solidariedade deixou de inspirar os princípios fundadores e as normas de funcionamento das sociedades ditas desenvolvidas. Quais são, então, os princípios que o cientista político e social explicita como contrafeitos? Três, no essencial:

1º PRINCÍPIO - Nada tem “valor” se não houver contrapartida, ou seja, tenha valor económico. Assim, só possui valor de utilização os bens e os serviços comercializáveis concordantes com os interesses da economia capitalista de mercado. Eis a bandeira através da qual se procura fundamentar e sustentar os postulados exaltados da liberalização, da desregulação e da privatização, em desfavor da “necessária” extinção dos bens e dos serviços públicos.

2º PRINCÍPIO - A empresa privada é melhor que a empresa pública porque é uma organização estável para conseguir organizar as relações “comerciáveis” entre os membros de uma comunidade humana e entre os países. Nesta perspectiva, logicamente se convoca a tese segunda a qual o investimento privado é o motor do desenvolvimento de qualquer país e, consequentemente do seu desenvolvimento social, desde que não se inclua aqui o que não rende; os militares e as polícias, por exemplo, têm por função, neste quadro, isso sim, contribuir para a competitividade das empresas. Tudo o resto, é injustificável na linha de que o investimento público cria mais prejuízos do que proveitos. Reduza-se, com o tal apelo ao sentido de responsabilidade, as despesas públicas “não comercializáveis” e, em concordância, os impostos sobre o grande capital, as grandes fortunas e os grandes lucros.

3º PRINCÍPIO - Como corolário natural, a ideia de que o capital financeiro seria a principal fonte de criação de riqueza, insinuando a permuta desta do trabalho humano para o capital financeiro privado e, assim, inspirando a revogação de um sistema de valores desenvolvido e que, historicamente, ocorreu no último século.

 

Desta viciação de princípios, Riccardo Petrella diz resultarem duas consequências políticas e socioeconómicas que explicam, a inevitável necessidade do desmantelamento do Estado do “Welfare” por parte das classes dirigentes:

- O trabalho foi reduzido à categoria de custo para o capital, com a consequente e natural redução do seu custo através do abaixamento real dos salários ou da substituição do trabalho pelas novas tecnologias ou, ainda, pela deslocação das empresas para países de baixos salários e de fraca protecção social;

- O Estado ao tributar impostos com finalidades redistributivas passou a ser visto como prejudicial e, deste modo, naturalmente acusado de ser penalizante para a liberdade e a acção do capital. Ao colocarem-se, assim, os Estados em concorrência fiscal entre eles, através da contracção fiscal, favoreceu-se (e favorece-se) o propósito fulcral de destruição do Estado do “Welfare” como convém ao capital.

É nesta ordem de ideias, e noutras igualmente equivalentes, que o pensamento ético confronta a política, a economia e, até, a própria ciência contemporânea, de mau grado para muitos comentadores que hoje se passeiam, sem castigo, pelas nossas televisões ou escrevinham nos nossos jornais, sem que se interroguem se pode haver uma política legítima ou uma economia solidária que não se paute por uma normatividade tendente à realização da Ideia de Dignidade – meta incontornável de uma Ética Solidária para o nosso tempo.

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

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NÃO SOU EU QUE O DIGO

 

Economia Moral Política

Comprei na semana passada, um pequeno livro dos ENSAIOS DA FUNDAÇÃO (Fundação Francisco Manuel dos Santos), intitulado “Economia, Moral e Política”, escrito por Vitor Bento, homem licenciado em Economia e mestrado em Filosofia que ocupou, ao longo de uma intensa carreira profissional de 38 anos, diversos cargos de reconhecida responsabilidade pública e empresarial, tendo sido nomeado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, membro do Conselho de Estado, em substituição de Dias Loureiro. Tratando-se de alguém que se situa num espaço político e ideológico diferente do meu, mais estimulou o meu interesse pela sua leitura.

Confesso que li a introdução e, de imediato, passei ao último capítulo que, de forma simples mas clara, tematiza A recente Crise Financeira Internacional. Pretendo neste breve texto dar conta dos factores por ele referidos como sendo as causas mais relevantes desta crise que começando por emergir no sector financeiro, não é possível, ainda hoje, conhecer em toda a sua extensão. Refere o autor que embora os factores financeiros apareçam como as causas mais comummente apontadas para a origem da crise, várias outras, económicas e sociais, concorrem para o desenlace.

 

Neste enunciar de factores causais da crise, dois deles chamaram a minha atenção. Começo por referir a bolha especulativa que, Vitor Bento, caracteriza como um processo típico de “loucura colectiva, desencadeado quando um período de prosperidade funda comportamentos baseados em expectativas adaptativas de falsa valorização de activos que vai gerando uma incomensurável riqueza artificial até ao pânico que origina o crash final. De quem é a culpa? De modo sucinto, ele responde:

§ Dos reguladores, que não viram a tempo, e por isso não preveniram, as condições que alimentaram a insustentável inflação dos activos;

§ Dos bancos centrais, que mantiveram taxas de juro excessivamente baixas por demasiado tempo, favorecendo o enchimento da bolha;

§ De gestores e profissionais pouco escrupulosos, que criaram e venderam gato por lebre, acreditando, ou fazendo acreditar, numa nova alquimia;

§ De teóricos que acreditaram e levaram outros a acreditar na infinita capacidade auto-reguladora dos mercados;

§ Dos que descuraram a Macroeconomia e a gestão macroeconómica

§ Dos especuladores, não só os ricos e gananciosos mas também das suas próprias vítimas que puseram de lado a prudência e assumiram riscos excessivos, apostando a segurança do futuro no conforto do presente.

O outro dos factores que pretendo mencionar e também citado, como é óbvio, por Vitor Bento, remete-nos para o Funcionamento do Sector Financeiro e para as três causas a ele directamente associado.

§ 1ª causa – O crescente distanciamento da realidade tangível em que assentou o explosivo crescimento financeiro, sabendo que o papel económico fundamental deste sistema é intermediar, entre aforradores e investidores, a utilização da poupança e distribuir riscos. Dois aspectos são, assim, sublinhados como condições para o êxito desta intermediação; é necessário, por um lado, que os utilizadores de fundos lhes assegurem uma aplicação suficientemente reprodutiva, aumentando o potencial de produção futura e, com ele, a capacidade de conversão dos direitos de saque sobre ela existentes. Por outro, que a criação de activos financeiros se vá aumentando em linha com o crescimento do potencial de produção. E o que aconteceu, então? Vitor Bento responde: por um lado, um crescente desvio, para fins não produtivos, dos fundos disponibilizados pelo sector; e por outro, um desmesurado crescimento do stock dos activos financeiros, através de um processo de multiplicação de direitos de saque sem qualquer sustentação na realidade sobre a qual são sacáveis. Assim surgiram os conhecidos “derivados financeiros”, a inflação da percepção da riqueza e a desproporção que os esquemas regulatórios deixaram inchar até à sua implosão estrondosa.

§ 2ª causaA arrogância epistemológica proveniente do quadrante ideológico liberal que, reproduzindo a arrogância dos economistas socialistas … tentaram demonstrar, através de um conjunto mais ou menos numeroso de equações matemáticas, que seria possível conseguir uma afectação dos recursos mais eficiente do que o mercado.

§ 3º causa – Vitor Bento defende o princípio de que a eficácia do mercado enquanto regulador económico pressupõe, além do comportamento racional dos seus agentes, a sua atomicidade. Esta assegura a existência de uma diversidade de interesses, objectivos, visões e expectativas, em confronto permanente, para que se produzam equilíbrios razoáveis e não enviesados. Neste campo, o que aconteceu foi que, ao longo das últimas décadas, o modelo de funcionamento económico, e sobretudo no sector financeiro, foi construído assente em práticas inconsistentes com aquele princípio económico, com consequências tanto mais gravosas quanto mais globalizado o modelo se tornou. Deste modo, permitiu-se ou fomentou-se uma excessiva concentração das instituições financeiras e, por outro lado, promoveu-se uma padronização comportamental dos decisores, que, em geral, estudaram nas mesmas escolas, aprenderam a mesma doutrina, utilizam os mesmos modelos de análise e decisão, pensam da mesma maneira, reagem aos mesmos sinais, fazem as mesmas previsões e competem com os mesmos “benchmarks”.

ESCLARECEDOR !

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quarta-feira, 8 de junho de 2011

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DESCULPEM LÁ, A CATURRICE SADIA DE SER ESQUERDA

 

Esboco

NOTA: Texto que dedico aos auto-intitulados democratas que o são apenas porque a circunstância histórica os faz viver numa democracia para a qual em nada contribuíram. Aos democratas de direita, em especial aos meus amigos, que muito respeito, peço-lhes a compreensão e a tolerância para este firme mas necessário desabafo.

A Esquerda perdeu as eleições. E quando digo Esquerda, quero-me referir a todos quanto, colectiva ou individualmente, sabem que a luta é e será permanente porque a história não se fixa por quaisquer resultados eleitorais como alguns revivalistas ressabiados de direita ou mesmo alguns nostálgicos e dissimulados salazaristas, que hoje e agora, com a arrogância néscia que os define, nos querem euforicamente fazer crer.

A Esquerda a que pertenço por ideologia, convicção e consciência não se mobiliza para pequenas batalhas de vitórias transitórias. Apesar disso, essa Esquerda tem a noção clara da importância daquelas e sobretudo aprendeu com a luta e com as dificuldades a resistir perante as derrotas, como esta de 5 de Junho, consciente das condições combinadas, complexas e profundamente desiguais de um sistema globalmente perverso que, no momento histórico atual, tornou claramente refém o poder político democrático de outros poderes que, atrás daqueles, o amanham à feição sem que para tal se tenham de submeter a votos.

A Esquerda que me tem vindo a fazer um cidadão coerente e solidário, no pensamento e na ação, confirma e valoriza a importância da democracia representativa mas reconhece, com igual vigor e seriedade, as suas limitações. Por isso, trata-se de uma Esquerda que não pode deixar de apoiar e enaltecer o empenhamento, a luta e a dinâmica organizadas no sentido de desafiar, conscientemente, o aprofundamento dessa mesma democracia, convicto da possibilidade do seu necessário e constante desenvolvimento a favor da dignidade das pessoas sustentada, como é óbvio, numa maior e mais empenhada equidade social. As eleições foram, no tempo e no espaço, apenas um momento de uma ação no âmbito de uma luta política mais vasta que urge continuar e aprofundar …

Imagem retirada DAQUI

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OS INTELECTUAIS - SILÊNCIO IMPOSTO OU PROSTITUIÇÃO DE LUXO?

 

corpoadentro

Imagem retirada do BLOG AS LEITURAS DO CORVO

 

CORPO ADENTRO de Bernardo Coelho

A primeira grande investigação sobre a prostituição de luxo em Portugal.

Corpo Adentro é um olhar que desvenda o denso e oculto quotidiano destas mulheres, prostitutas e acompanhantes. Uma intensa e rigorosa pesquisa que permite compreender como as acompanhantes dão corpo a uma identidade sexualizada.

 

A analogia não é, de todo, despropositada …

Os tempos de hoje exibem, aos olhos de qualquer moral de reputação merecida, para além de um desprezo indecoroso pelo FUTURO, perplexidades inaceitáveis feitas de múltiplas iniquidades ofensivas ao respeito pelas pessoas e insuportáveis nos planos das exigências mais elementares de justiça social. Embora submersa em bens materiais de toda a casta, a sociedade no seu conjunto oferece-nos, com efeito, uma triste e inquietante QUALIDADE tendo presente os valores da DIGNIDADE HUMANA e da JUSTIÇA SOCIAL que, pela sua centralidade, determinam e autorizam o julgamento de mal-estar e apoquentação.

 

É neste quadro, tendo em atenção a constatação do evoluir histórico, que os INTELECTUAIS parecem ter perdido lentamente e sem recuo patente, a militância forjada na sua autonomia de afirmação de pensamento e de crítica e o desperdício do seu poder mobilizador, acima dos interesses egoístas de grupos e das intolerâncias preconceituosas dos partidos. Estas características, cívicas e morais, associadas ao reconhecimento social das suas competências, profissionais e académicas, aceites como excepcionais, são as que lhes conferem (ou concediam) a legitimidade e o enorme respeito público para fazer valer não só o direito mas, sobretudo, o dever de intervir em questões de interesse e de preocupação de ordem geral, em nome de uma “consciência colectiva” que importa(va), permanentemente, promover e atualizar.

Desgraçadamente, hoje, apesar da expansão das escolaridades, presencia-se o fenómeno intrigante do progressivo distanciamento entre as chamadas elites ditas cultas e a generalidade das pessoas comuns através de um movimento perverso de sobrevalorização daqueles em desfavor da acintosa vulgarização e empobrecimento crítico destas, numa lógica de reforço da dominação política, económica e social, que acrescenta a esta subjugação, o necessário e conveniente projeto de hegemonia cultural e ideológico, adaptado às suas particulares exigências e prementes necessidades dos tempos. Este fenómeno enredador, para além de questionar o papel da ESCOLA que temos e da ORDEM que esta serve, torna-se evidente a formação de uma nova classe de “pregadores mediáticos” que tem a função serventuária e missionária de esclarecer o “povo”, esse corpo ignorante e bruto, no intuito de o trazer à boa razão e de lhe indicar o caminho correto e prometedor da paz social que a “todos” interessa.

Quanto a mim, a VIDA, através das pessoas concretas que nela habitam e das suas histórias, tem-me ensinado a resistir e mesmo a rejeitar o assédio das melodias do individualismo abstracto e rarefeito do ser humano decorrente dos diversos liberalismos que, hoje e a todo o momento, nos sitiam. Continuo a pensar que o homem, no seu essencial, se faz no quadro objectivo das suas relações sociais e, como tal, não alinho numa concepção metafísica da pessoa que trata com reverência a multiplicidade do bem individual em relação ao bem comum e a separação das pessoas em detrimento da sua interdependência.

É neste quadro de interação social e contextualizada que julgo ser possível o RECONHECIMENTO DO OUTRO como uma necessidade humana fundamental e se (re)estabelece a dignidade das pessoas como formas necessárias e igualitárias de aceitação, ao contrário de honras espúrias e de honorários suspeitos que fazem dos canalhas mediáticos gente respeitável, desinteressada e qualificada. Que saudade da nobreza e da dignidade dos INTELECTUAIS de outrora que, ao contrário de nos convocarem para um sentido duvidoso de responsabilidade nos apelavam para a uma outra e diferente OBRIGAÇÃO; a de lutar pela DIGNIDADE e pela JUSTIÇA, humana e social …

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domingo, 5 de junho de 2011

SÓCRATES, DESPEDE-SE DE 1º MINISTRO A CAMINHO DAS PRÓXIMAS PRESIDENCIAIS

 

Como podem imaginar, não sou Sócrates, nunca fui, não serei no futuro certamente mas, não sei se terei de engolir, um dia, este “batráquio”, por sinal, de modo nenhum anuro. Habilidoso como neste discurso de despedida, registo, o derrotado 1º Ministro se afasta daquela insolência de estilo que levou, associado a políticas claramente por muitos rejeitadas, uma parte do eleitorado a “correr com ele” e, com um tiro que mata dois coelhos, mostrou a Cavaco a inteligência de um homem não ressentido que tem o arcaboiço impudico de passar a mão, embora enjoadiço, pelo … pêlo, de todos os portugueses.

 

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Os candidatos que, de braços dados, vão conflituar nas próximas presidenciais

Ao contrário, o lepidóptero Capoulas, em momento de acefalia provavelmente transitória, penso eu, responsabiliza a “estrema-esquerda” do revés indigesto do seu grupelho larvícola. As contradições do costume …

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5 DE JUNHO - ENTRE A ESPERANÇA E O DESESPERO

 

Li o que não pude deixar de ler, escrevi apenas e-mails improrrogáveis e nada fiz que importe aludir ao longo desta última semana. Não obstante, andei muito atarefado, ou melhor, alegremente azafamado com convívios, afectos e memórias de stupidfamiliares e amigos que me fizeram viver e reviver. Ainda bem. Não dei por mim, nesta feliz circunstância, acareado com aquela vontade indeterminada, e de arriscada auto-compreensão, em ir de companhia com esse folguedo eleitoral feito de um vazio político penoso e desesperante. Mormente, descansei da perversa comunicação social que presta aquele submisso, comovente e patológico papel de perversão democrática.

Sou um, entre muitos, que entende que a democracia é tanto mais democrática quanto mais esclarecidos forem os cidadãos. Assistir, assim, à degeneração mórbida das inteligências estimulada por múltiplos figurantes, nos quais incluo, julgo que com toda a propriedade, os supostos doutos “politiqueiros” que se travestem de imparcialidade, constitui, para mim, o clímax do masoquismo moral e intelectual da farsa eleitoral. O PS recusa os privilégios de Marcelo mas não tem a vontade, e por isso dispensa a coragem, de fazer alinhar a prática com o discurso que a ocasião madrasta solicita no seu despudorado significado oportunístico. Mais do que discrepância, estamos na presença da eficácia de uma produção procurada da dita degeneração que serve aquela alternância que cria a verdadeira gordura do sistema; o sebo e banha dos seus gulosos.

Nesta pantomina trágico-cómica, os gulosos insaciáveis na voragem da sua avidez, tudo fazem para tornar os cidadãos em esqueléticos eleitores, mendigos de um direito que virou dever de poder escolher apenas os pratos do dia de um cardápio que exala o fedor da burocracia acomodada pelo mundo das negociatas, ambos com a reputação em baixa, atravessando desavergonhados as ruas da amargura ética. Como o passado recente tem vindo a acusar, os compromissos assumidos valem até ver e os direitos com facilidade são engolidos na sua historicidade pelas bocarras desses chulos glutões. Entre a esperança e o desespero, resta-me ainda a dignidade da história e a referência daqueles que serviram sem nada pedirem em troca. Todavia, até quando esta memória me dará energia para acreditar?

Imagem retirada daqui

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