domingo, 17 de abril de 2016

FOUCAULT E LACAN

 
"Lacan, o 'libertador' da Psicanálise"

Lacan não exercia nenhum poder institucional. Os que o escutavam queriam exatamente escutá-lo. Ele não aterrorizava senão aqueles que tinham medo. A influência que exercemos não pode nunca ser um poder que impomos.
Michel Foucault, in: Ditos e Escritos I
Post publicado em Psicanaliselacaniana.blogspot.pt/
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domingo, 10 de abril de 2016

ESCREVE, AMIGO

És um daqueles amigos que muito admiro, permanentemente instigado pelo desafio do escuro, daquele impreciso que te desconcerta, te parece desalinhado, mas que se te apresenta livre, sedutor e acertadamente indisciplinado. Mareias por águas bravias e outras dóceis e domésticas como se a vida não desnudasse o contraste. Curiosamente, respaldas-te naquelas e vives azedado no quotidiano das últimas. Não obstante, é nestas que refazes a saudável vitalidade e energia da tua fúria e encontras o irónico sossego do arrimo que te permite viver a vida que sabes escapar-te.

Por isso, tens de escrever para dar forma ao informe experimentado que te cabe no universo dessa infinidade de possíveis mundos e modos de vida, dando vida aos restos exclusos da desenxabida mas cuidada cena do tartufismo nomeável. Muda de palco e encena a tua história. Dá voz aos silêncios que tão bem soubeste guardar ao longo dos tempos. Sei que sabes escutar os murmúrios desses destroços empilhados e, mais do que escutar, perceber a sua linguagem e inventar as palavras com que o teu imaginário enlaçará o real, que nunca se apreende por inteiro, e o simbólico, que sempre nos surge incapaz. Escreve, amigo. Com nobreza, se fores capaz sem o calor embriagado da inquietação ou, com grandeza, escusando o afável aliciamento do cativeiro.

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domingo, 3 de abril de 2016

O VALOR DO NÃO NA OBRA DO SIM À INDIGNAÇÃO

Tristemente nem sempre a razão da indignação se faz ouvir perante o inadmissível. Diante desse imperdoável que abala, a dor forma-se no nosso Ser. O Ser e o ter vinculam-se a qualidades diferentes e visceralmente distintas. Importa separar. O Ser pode-nos levar à indignação, o ter soma-lhe contrariamente a inveja que alenta a avidez. A indignação firma-se na defesa do que se É. Ao invés, a cobiça radica no que não se goza o que outro possui. A indignação busca o reconhecimento que perfilhamos como vital. A sofreguidão, pelo contrário, desvia-se para a degenerescência por entre imediatas adiaforias.

Deste jeito, ao perder-se a paciência, só nos resta o movimento humano da impaciência. Agitado pela voz da indignação, assim se recusa (e bem) a ordem silenciosa da avidez. A invídia não nos trará certamente novos destinos, mas apenas os reiterados ressentidos da passiva inação ou da boçal cupidez. Amanhemos, assim, o vigor diligente da indignação escapando à madraça alienação das cobiças desmedidas ou das frias invejazinhas. Recusemos o espetáculo opressivo do ter, desse ter que nos enfeitiça, valorizando a consciência que naturalmente crescerá com a razão de Ser nesse movimento de recusa e de indignação. Em nome de um outro ter, um ter-valor que nos ultrapasse e se possa estender ao conjunto dos outros.

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