domingo, 29 de julho de 2012

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OS SINAIS QUE FAZEM VALER A (IN)JUSTIÇA

 

justica-cega-21A palavra (in)justiça sempre foi, e hoje mais, um recurso ideológico utilmente adulterável que, na sombra dos interesses e dos poderes que nela se acobertam, se finge em conceito substantivo de uma verdade conveniente - cambiada em socialmente necessária -  surfando (sem exigência) a onda fácil da presunção própria. Arrogante, nestes casos, a ideia de (in)justiça apresenta-se insensível à particular e censurável extorsão de proventos e exibe-se indiferente, no soberbo devaneio da inventada essência fixada, às decorrências dos seus interesseiros e miméticos usos.

A ideia de (in)justiça, como muitos outros valores, desvalores e conceitos, faz-se fugidiça quando a intentamos alcançar para, nesse enleio improvável, desafiar e ousar definições. No entanto e em contrapartida, é útil lembrar e aclarar que esses valores, desvalores e conceitos, à qual a (in)justiça não foge, fazendo parte do nosso quotidiano e aí repetidamente revolvidos, invadem os mais discretos diálogos, supostos e atinados juízos ou ainda cândidas e simples ações.

Neste contexto, reconhecer comportamentos justos ou descabidos é, contudo, bem mais remansado do que pensar a justiça nos seus atributos e qualidade intrínsecos. E é aqui, na dificuldade ousada de procura da sua perfeita representação, que habita o objeto de uma saudável, incontornável e paradoxal disputa de sentidos e de verdades nem sempre convergentes ou mesmo amigáveis.

Considerar salutar a disputa, ao mesmo tempo que se reconhece a sua permanência e inevitabilidade, não deve conduzir ao desalento do relativismo inconsequente. Bem pelo contrário. A (in)justiça, sendo tema de uma luta irrefutável, o seu conceito e a sua conceção não o são menos. Mas conceitos e conceções à parte, o uso discursivo (político e ideológico) da ideia de (in)justiça, dá-nos sinais expressivos que, sob o ponto de vista das (des)igualdades, a habilitam e a legitimam.

Assim, a título de exemplo, alguns enfocam o sentido da (in)justiça nos rendimentos médios e baixos, quando não nos minguados subsídios e apoios sociais. Outros, ao contrário, clamam contra os salários ostentosos e a amontoação de reformas obscuras. Aqueles, com o argumento da indolência e da improficiência de alguns excitam a discórdia que lhes é preciosa. Os últimos, inculpam a exploração, a perversão e a agiotagem que os entretecem. Conceitos e conceções à parte, alguns destes sinais são ilustradores e denotativos sobre o que se proclama e se protege. E os sinais poderão, em muito, ser multiplicados. É uma questão de vontade e perquirição empenhadas na necessária e atrevida significação desses prenúncios …

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