terça-feira, 5 de maio de 2015

TARDE DEMAIS

Muitos contam a si próprios histórias sobre si mesmos sem se darem conta da mentira que da sua vida fizeram e, em jeito de tardia sobrevivência, embora desajeitadamente, obstinam-se em a prolongar. Certamente, tarde demais, surpreendem-se (quando, e se compreenderam entretanto) que as mentiras que a si contaram, contando aos outros as suas próprias mentiras, os sitiaram na clausura penosa de um beco sem saída. Enfim, talvez tarde demais. Fizeram apenas o que as mentiras confirmavam mas, no íntimo e com verdade, sentem que pouco ou nada fizeram. E o que fizeram, fizeram-no sem a alma contagiante da autenticidade que ceiva e desafia a própria Vida. Povoaram, afinal de contas, a inércia obscura de um licencioso e arrastado definhamento que sempre os atraiçoou. No essencial, tarde demais sentem ter vivido um atormentador velório, sem finado, à espera do seu aquietador e triste fim. Sim, tarde demais.

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